Especialistas temem que, caso eleito, Bruno Engler (PL) flexibilize as normas ambientais, intensificando a mineração em Belo Horizonte e ampliando os efeitos da emergência climática na capital mineira.
Um dos principais doadores de campanha do candidato no primeiro turno das eleições municipais é um empresário ligado à mineração e ao agronegócio.
“Ele é conhecido pelo comprometimento com as mineradoras e BH é uma cidade rodeada por barragens, muitas delas, inclusive, ameaçadas de rompimento. Ou seja, a situação é gravíssima e pode comprometer até mesmo o abastecimento hídrico da região metropolitana”, contextualiza Andréa Zhouri, especialista em meio ambiente e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“É preocupante um candidato financiado por mineradoras e que pretende flexibilizar, ou seja, afrouxar, o licenciamento ambiental, em uma cidade situada entre ‘bombas-relógio’ que podem explodir a qualquer momento. Ele também nada diz sobre a proteção das áreas verdes de BH. O que ele fará em relação à Mata do Planalto, por exemplo?”, continua.
Em seu programa de governo, Bruno Engler propõe a criação de uma estrutura para atender com mais agilidade os licenciamentos.
Andréa Zhouri relembra que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principal cabo eleitoral do concorrente à Prefeitura de Belo Horizonte, promoveu o desmonte das instituições ambientais.
“Bruno Engler é um candidato inexperiente, do ponto de vista administrativo, e que, seguindo a cartilha do Bolsonaro, nega a ciência, o meio ambiente e as mudanças climáticas. É antiambiental, antissocial e anticientífico. O seu cabo eleitoral Bolsonaro foi o presidente da ‘passagem da boiada’”, avalia a professora da UFMG.
Despreparo e emergência climática
A população de Belo Horizonte já convive com os efeitos da emergência climática. Neste ano, a cidade ficou mais de 170 dias consecutivos sem chuva. Em 2023, o município foi o que mais esquentou entre as capitais brasileiras.
Luiz Paulo Siqueira, biólogo e integrante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), avalia que Bruno Engler e o projeto defendido pela extrema direita não têm condições de lidar com os desafios impostos pelo atual cenário.
“A extrema direita nega a emergência climática e a necessidade de reagir com medidas que atenuem seus impactos. Engler é o representante desse setor e a política adotada pelo bolsonarismo tende a aprofundar as contradições com o meio ambiente, ampliando as fronteiras de interesse do capital e acirrando os impactos da emergência climática”, explica.
O biólogo ainda destaca que a mineração e o agronegócio, setores com os quais Bruno Engler tem relação, são dois dos principais responsáveis pelo acirramento da crise climática.
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“O programa de Engler é claro: retirar qualquer limite que possa impedir o avanço do capital – das construtoras, da especulação imobiliária ou da mineração. A mineração na Serra do Curral, por exemplo, vai trazer impactos severos na qualidade de vida. A destruição desses territórios são determinantes para a piora dos impactos das mudanças climáticas”, comenta.
Para ele, o município necessita, na realidade, de um prefeito que lidere a defesa das serras, das águas e das áreas verdes.
“A defesa desse patrimônio é fundamental para garantir a segurança hídrica e a qualidade de vida. Engler vai ao oposto desse entendimento e atua para liberar a mineração em toda região. Em relação às áreas verdes, o retrocesso vai ser iminente. Ele vai liberar nossas poucas áreas para especulação imobiliária”, conclui Luz Paulo.
'Aluno' de Bolsonaro
Soniamara Maranho, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), enfatiza que, para se perceber os riscos da eleição de Bruno Engler para o meio ambiente, basta relembrar como foi a atuação de Jair Bolsonaro e observar como é a atuação do atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
“Bruno Engler representa tudo o que há de mais atrasado, em termos de projeto. Podemos relembrar o que o Bolsonaro fez com a Amazônia: agonizou o cuidado, retirou todo o recurso da preservação e, hoje, a região sofre com a maior seca da história, com mais de 70% dos municípios sem água”, alerta.
“Como deputado estadual, Engler já é comprometido com empresas que roubam e pilham nossos bens naturais, sem deixar nada para o estado e para o município. Se chover em BH como choveu no Rio Grande do Sul, teremos consequências jamais vistas”, continua.
Edição: Elis Almeida