Com a chegada do 2º turno das eleições municipais em Belo Horizonte, na qual a disputa se dá entre Fuad Noman (PSD), que busca a reeleição, e o bolsonarista Bruno Engler (PL), especialistas expressam preocupação com o alinhamento do candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro à ideia de privatização de serviços públicos essenciais à população.
Entre 2021 e 2022, Engler foi vice-presidente da Comissão Extraordinária de Privatizações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), onde exerce seu segundo mandato como deputado estadual.
O relatório final de trabalho do grupo incluiu entre as suas recomendações que o legislativo aprovasse uma emenda constitucional estadual para acabar com a exigência de referendo popular para desestatização de algumas empresas públicas estratégicas, como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
“Se Bruno for eleito prefeito, o projeto de privatização será ampliado na cidade, uma vez que ele se coloca na política com o espectro ideológico de direita mais agressivo e violento que nós temos visto no último período”, alerta Jefferson Leandro Teixeira, dirigente do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro/MG).
Para ele, setores como educação, saúde e segurança pública estarão ameaçados com uma possível eleição do candidato do PL.
É o que também pensa Helder de Figueiredo e Paula, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que acredita numa possível privatização da BeloTur e da BHTrans. Além disso, ele teme um provável aparelhamento de Engler às ideias de Romeu Zema (Novo) em transferir recursos públicos para empresas privadas administrarem escolas públicas.
“O bolsonarismo que Engler representa defende as privatizações de todos os serviços. Em um país desigual como o nosso, no qual a classe trabalhadora é super explorada e recebe pequenos salários, a privatização provocará a retirada de direitos e tornará a vida das trabalhadoras e dos trabalhadores ainda mais difícil”, lamenta o professor.
Projeto privatista
Jefferson Leandro Teixeira destaca a importância de considerar o percurso e escolhas de Engler na ALMG para avaliar a sua posição acerca de um tema essencial como a privatização.
“Obviamente, ao assumir a prefeitura de Belo Horizonte, ele vai contribuir com o projeto de privatização em uma outra esfera, numa esfera executiva municipal, que vai trazer os problemas de privatização também para o município”, sinaliza.
Segundo ele, nesse cenário eventual, Engler se colocaria como uma liderança que trabalharia as questões objetivas e subjetivas da privatização para buscar a mobilização da sociedade e uma opinião pública a favor da entrega dos serviços públicos para iniciativa privada.
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Israel Arimar, coordenador do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), também se preocupa com a possibilidade.
“Qualquer candidato que defenda a privatização dos serviços públicos preocupa o sindicato e os servidores de Belo Horizonte. Dois bons exemplos do risco da privatização de serviços essenciais é o apagão de energia em São Paulo e a contaminação por HIV de transplantados no Rio. Faltam poucos dias para a eleição e a posição dos candidatos em relação a esse tema deve ser um dos pontos prioritários para a decisão do voto”, pondera.
O sindicalista se refere à crise energética que atingiu a capital e a região metropolitana de São Paulo na última sexta-feira (11), quando um temporal com ventos de até 100 quilômetros por hora danificou áreas da Enel. A empresa é responsável pela distribuição de energia em São Paulo. Cerca de 3,1 milhões de clientes ficaram sem luz.
Já o outro caso também ocorreu na sexta-feira (11) e se refere à contaminação de seis pacientes por HIV, que receberam órgãos transplantados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio de Janeiro. As infecções ocorreram, no entanto, após testes feitos por um laboratório privado, o PCS. O laboratório foi contratado pela Fundação Saúde, sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde do RJ, para atendimento ao programa de transplantes no estado, e não acusou a presença do vírus.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos