Dois projetos políticos distintos disputam a Prefeitura de Belo Horizonte em 2024 no 2º turno. De um lado, o atual prefeito Fuad Noman (PSD), que se coloca ao centro no espectro político, tenta sua reeleição. Do outro, Bruno Engler (PL), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, disputa o eleitorado da direita e da extrema direita na cidade.
O campo progressista, especialmente aquele que votou em Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT) no primeiro turno, entregou cartas-compromisso para Fuad Noman, que reúnem uma série de reivindicações relevantes para a cidade. Entidades do movimento negro e centrais sindicais de Minas Gerais fizeram parte desse movimento.
Do outro lado, Engler reúne o apoio do Republicanos, partido de Mauro Tramonte, que também disputou o 1º turno, do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e até mesmo de Tarcísio (Republicanos), governador de São Paulo.
A cientista política Luiza Aikawa, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia que a disputa em BH reflete também o cenário nacional.
“De um lado, o Bruno Engler está bastante alinhado ao bolsonarismo. Do outro, Fuad é alinhado ao PSD, de Gilberto Kassab, que foi um partido que despontou nessas eleições municipais. Pela primeira vez, inclusive, no século, um partido ocupa mais prefeituras do que o tradicional MDB, o que representa um feito e tanto para um partido que foi fundado apenas em 2011”, analisa.
Para ela, Belo Horizonte é palco de uma disputa que reflete um momento político pelo qual passa o Brasil em que, independentemente do resultado, a próxima prefeitura não vai representar uma renovação política.
Insegurança alimentar
Nei Zavaski, uma das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), aponta que as eleições na cidade são fundamentais para a discussão sobre insegurança alimentar e alimentação saudável.
“A falta da alimentação saudável é uma pauta central na discussão do MST. E hoje, o conjunto de trabalhadoras e trabalhadores que vivem nos bairros, nas vilas e favelas de Belo Horizonte, que vivem nas periferias, representam a crise do sistema capitalista, a crise de um sistema do agronegócio. Para nós, é central ter um projeto que busca combater a fome sistêmica da sociedade”, lembra.
Prefeitura popular
Um compilado de pesquisas de intenção de voto para o 2º turno das eleições de BH, organizado pelo Brasil de Fato MG, aponta que o candidato à reeleição Fuad Noman está na liderança pela prefeitura da capital mineira na maior parte dos levantamentos.
Na última pesquisa, divulgada pelo Instituto Doxa na quinta-feira, dia 17, o atual prefeito aparecia com 58,7% dos votos válidos, enquanto Engler segue bem abaixo, com 41,3%.
Para Rogério Correia, que foi candidato à Prefeitura pelo PT, no caso de vitória do Fuad, é preciso que campo popular exerça pressão para que seja possível fazer avanços importantes na cidade.
“Elegemos na coligação de esquerda nove vereadores. A gente espera que isso contribua para que haja uma pressão para uma prefeitura mais popular. Nos moldes de hoje, a prefeitura tem muito pouco ou quase nada de participação popular. Quando o povo não participa, não há grandes avanços para obtenção de direitos. Mas é necessário centrar forças na derrota da extrema direita que seria realmente um desastre para o povo de BH”, enfatiza.
Ameaça aos serviços públicos
Entre 2021 e 2022, Engler foi vice-presidente da Comissão Extraordinária de Privatizações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), onde exerce seu segundo mandato como deputado estadual.
O relatório final de trabalho do grupo incluiu entre as suas recomendações que o legislativo aprovasse uma emenda constitucional estadual para acabar com a exigência de referendo popular para desestatização de algumas empresas públicas estratégicas, como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Israel Arimar, coordenador do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), reforça que uma possível privatização dos serviços públicos na cidade é algo que preocupa o sindicalismo.
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“A saúde é uma área que a gente tem uma grande preocupação pelas experiências ou pelas falas que vem do campo mais ligado à extrema direita. De qualquer forma, o sindicato vai se manter atento e junto com os servidores na resistência a qualquer projeto que coloque em risco a prestação do serviço público em Belo Horizonte”, sinaliza.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos