Pescadores e agentes da Defesa Civil encontraram, na última semana, centenas de peixes mortos às margens do rio Paraopeba, na divisão entre os municípios de Betim, Juatuba e São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), uma das áreas atingidas pelo rompimento da barragem BI da Mina Córrego do Feijão, em janeiro de 2019.
Quase seis anos após o crime da Vale em Brumadinho, as comunidades ainda lutam por reparação socioambiental.
A morte dos peixes foi constatada após uma denúncia de moradores locais, que alegaram ter visto funcionários da mineradora coletando os animais mortos. Imagens obtidas por moradores mostram pessoas com roupas brancas de proteção usando barras para retirar os peixes do rio.
A pesca no Paraopeba permanece proibida desde o rompimento da barragem, que causou um dos maiores crimes ambientais do Brasil, deixando 272 mortos e impactando 26 municípios.
A denúncia foi encaminhada à Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que solicitou explicações à Vale, às prefeituras locais e ao governo estadual.
A deputada Bella Gonçalves (PSOL) afirmou que o caso já chegou à comissão e reforçou a gravidade da situação.
“Fizemos vários pedidos de informação sobre as causas, sobre os estudos da água e dos próprios peixes, mas ainda não foram respondidos. A questão já se arrasta há muito tempo. Os pescadores relataram a contaminação da água, enquanto a Vale insiste que a água não está contaminada, mas apenas turva", declarou a deputada.
Para os moradores da região, o episódio reflete o impacto contínuo do rompimento. Wilk Fernando, que vive nas proximidades do rio, falou sobre a insegurança da população.
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“Estamos assustados, pois é algo que nunca aconteceu. Morrer peixe por causa da chuva é normal, mas a quantidade dessa vez nunca aconteceu. Nos preocupa, porque o meio ambiente foi danificado e continua sendo. Há um sentimento de insegurança e medo do que realmente estamos sendo expostos”, relatou.
O engenheiro hídrico Kalahan de Mello, representante da Associação Estadual de Defesa Ambiental (Aedas), reforça que os órgãos ambientais restringem a importação do uso do rio e seus recursos desde o rompimento. Ele afirma que a mortalidade dos peixes levanta reflexões sobre o estado da recuperação do Paraopeba.
"Quase seis anos após o desastre, as reparações prometidas ainda não ocorreram, e o direito das pessoas de retomarem as suas vidas continua violado. Esse evento é mais um sinal de vulnerabilidade das comunidades ribeirinhas, já que, quando algo assim acontece, pensamos que a situação está piorando ou nada está sendo feito”, explicou Kalahan.
Segundo estudos contratados pela Aedas, análises realizadas entre 2021 e 2022 indicaram a presença de mais de 12 metais nocivos à saúde humana nas águas, sedimentos e peixes do Paraopeba. Além disso, 56% das amostras coletadas apresentaram graus de toxicidade que comprometem o ecossistema aquático.
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A dragagem do rio, uma das principais medidas de reposição previstas, segue com atrasos. Até o momento, menos de 2 km dos rejeitos foram removidos, conforme relatório da auditoria Aecom, que é a empresa responsável por realizar a auditoria técnica e ambiental independente das atividades desenvolvidas pela mineradora Vale.
Procurada pelo Brasil de Fato MG, a Vale afirmou que suas equipes monitoram a fauna e realizam ações de remoção de peixes mortos desde 2019. Segundo a empresa, a morte dos peixes ocorrida no dia 11 de outubro está sendo investigada, e os resultados foram enviados aos órgãos ambientais.
Enquanto a Vale continua a realizar o monitoramento do rio, as comunidades locais permanecem sem respostas concretas sobre os impactos em suas vidas e no meio ambiente. O episódio, segundo especialistas, reforça a urgência de ações mais adequadas de reposição e de esclarecimentos sobre os efeitos do desastre, que ainda são sentidos em toda a extensão da bacia do Paraopeba.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos