Minas Gerais

PRECONCEITO

Declarações de Zema sobre Bolsa Família geram reações e expõem debate sobre o impacto do programa

Governador associa escassez de mão de obra ao programa, mas dados indicam que o Bolsa Família aquece a economia

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
As declarações do governador provocaram uma onda de críticas de lideranças políticas e especialistas. - Foto: Reprodução Novo

Durante a abertura da 36ª SuperMinas Food Show, realizada no Expominas, na terça-feira (22), em Belo Horizonte, o governador Romeu Zema (Novo) fez uma declaração sobre o Bolsa Família, atribuindo ao programa a responsabilidade pela escassez de mão de obra no setor de comércio e varejo. 

“O Brasil é um país difícil. Tem mão de obra disponível, porque só em Minas Gerais, de Bolsa Família, nós temos aí mais de um milhão de pessoas recebendo”,  insinuou Zema.

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As declarações do governador provocaram uma onda de críticas de lideranças políticas e especialistas. A deputada estadual Lohanna (PV) rebateu as afirmações, classificando-as como “um equívoco e uma covardia”.

“O benefício é essencial para garantir a sobrevivência de milhões de famílias. O pior é que não é a primeira vez que o governador faz falas preconceituosas sobre políticas sociais, o que mostra seu desconhecimento sobre o assunto”, disse Lohanna, nas redes sociais.

A parlamentar completou dizendo que o problema está na falta de políticas públicas que incentivem o emprego e na escassez de oportunidades e qualificação para os trabalhadores.

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A deputada Beatriz Cerqueira (PT) também reagiu duramente, qualificando a fala de Zema como “uma mentira deslavada”. Segundo a parlamentar, “todo mundo sabe que, onde tem o investimento do Bolsa Família, as famílias compram mais, vivem melhor e, com isso, a economia se aquece”. 

Ela também citou que Minas Gerais é um dos estados com mais casos de trabalho escravo, ressaltando que essa é uma questão real a ser enfrentada, em vez de criticar programas sociais.

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O Bloco Democracia e Luta, que reúne parlamentares estaduais de oposição à gestão de Romeu Zema, emitiu uma nota em que repudiou as falas do governador, apontando que a declaração revela "um profundo desconhecimento sobre o programa" e "uma intenção clara de distorcer os fatos que comprovam sua eficácia". 

Segundo o bloco, o Bolsa Família não apenas apoia as famílias mais vulneráveis, mas também aquece a economia local, ao estimular o consumo e reduzir a vulnerabilidade social.

Bolsa Família e seus impactos econômicos

Criado em 2003 durante o primeiro governo Lula (PT) e relançado em 2023 no terceiro mandato do presidente, o Bolsa Família é considerado o programa social mais importante das últimas décadas no Brasil. 

Segundo um estudo recente do Banco Mundial, o programa não apenas auxilia na redução da pobreza e da desigualdade, como também gera efeitos multiplicadores na economia, estimulando o consumo e incentivando a criação de empregos, especialmente no setor privado.

Dados do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) reforçam essa análise, apontando o Bolsa Família como um dos programas mais impactantes para a economia brasileira. De acordo com o levantamento, nas regiões onde houve maior expansão do programa, foi registrado um aumento expressivo na formalização de empregos, com salários de até dois salários mínimos. 

Os especialistas também observam que, ao incentivar o consumo em áreas carentes, o programa melhora as condições de vida das famílias e estimula o comércio e o setor produtivo.

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O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, destacou a relevância do Bolsa Família como mais do que um simples programa social. 

“A percepção da sociedade é de que o Bolsa Família tem um efeito direto. De um lado, protege quem mais precisa; do outro, causa um impacto econômico onde as pessoas vivem, assegurando que possam ter uma inclusão produtiva”, afirmou o ministro, em entrevista recente.

Edição: Ana Carolina Vasconcelos