Minas Gerais

DIA DE FINADOS

Do substantivo ao verbo: luto por vítimas de Brumadinho (MG) une familiares em luta por justiça

Conheça a associação de familiares de vítimas do rompimento da barragem da Vale em 2019

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Reprodução - Avabrum

O 25 de janeiro de 2019 foi um dia que nunca mais terminou para centenas de pessoas que tiveram a vida impactada pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG). Desde então, as famílias das 272 vítimas fatais do crime vivem em busca de reparação, justiça e preservação da memória dos entes queridos. 

Foi nesse contexto que nasceu a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), formada por pessoas que se uniram em torno de uma dor que é, ao mesmo tempo, única e compartilhada. 

Ressignificar a dor por meio da luta deu um novo rumo para Maria Regina da Silva, que faz parte da associação e é mãe de Priscila Silva, uma das joias — forma como são chamadas as vítimas fatais do crime — de Brumadinho. 

“Eu entrei para a Avabrum pela necessidade de lutar, depois de descobrir que o que aconteceu foi um crime e de ver outras pessoas lutando e com a mesma dor. Eu olhava para as meninas nas reuniões e pensava ‘como elas dão conta? Elas estão lutando pela dor delas e pela minha’”, relembra.

“Eu não achava justo que eu ficasse dentro da minha casa, no meu lugar de conforto, enquanto elas estavam lutando por justiça”, continua a mãe de Priscila. 

Regina conta que nunca havia saído da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), mas, com a tragédia, foi para a Alemanha participar de um evento e denunciar o crime cometido pela mineradora.

“Hoje, tenho a capacidade de discernir, de ver o impacto. O rompimento da barragem não afetou apenas aqueles que perderam familiares, mas também quem sofreu de outras formas. Luto em várias frentes, participo de outros grupos, além da Avabrum, porque o rompimento trouxe a criação de muitos grupos. Estamos juntos, falando a mesma língua e defendendo uns aos outros”, continua. 

A luta e a organização popular também contribuíram para que Maria Regina voltasse a estudar. 

“Fiz um curso de planejamento de barragens e agora tenho conhecimento sobre isso. Minha luta não é só sobre o rompimento da barragem de Brumadinho, mas também por outras frentes que surgiram. Essa organização nasceu do sofrimento. Assumimos a luta e vamos continuar até o fim, até que haja uma justiça verdadeira, com a punição de quem realmente é culpado”, enfatiza. 

O luto que movimenta

Jacira Francisca, também membro da Avabrum, é mãe de Thiago Mateus Costa, outra joia de Brumadinho. Ela nunca havia feito parte de nenhum movimento organizado, mas saber que a Vale tinha conhecimento da iminência do rompimento da barragem e não fez nada para impedir fez com que ela se mobilizasse. 

“Eu nunca tive experiência de luta. Jamais imaginei que participaria de uma batalha tão árdua. Eu era apenas uma dona de casa que cuidava dos meus filhos. Não me envolvia com movimentos e lutas. Mas, diante do que aconteceu, fomos à luta. Estamos buscando justiça há cinco anos e nove meses, como se fôssemos nós os culpados pela tragédia de Brumadinho”, lamenta. 

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A tragédia fez com que ela descobrisse em si uma força que não sabia existir, mas a dor continua presente. Ainda assim, ela se mantém em movimento.

“As mães que perderam seus filhos esperam por respostas. Elas mantêm a esperança de que encontrarão seus entes queridos e de que sua memória jamais será esquecida. A tragédia foi brutal. A morte é inevitável, mas morrer daquela forma é inconcebível. A empresa sabia do risco, mas não retirou as pessoas que estavam sob a barragem”, continua Jacira. 

Ela afirma que, além de justiça pelas joias de Brumadinho que, de acordo com ela, foram “mineradas” pela Vale, a associação também luta para que crimes como esse não voltem a acontecer. 

“Não queremos que mais ninguém, em Minas Gerais, no Brasil, ou no mundo, tenha de ouvir sobre uma tragédia dessas, em que 272 pessoas perderam a vida pela falta de cuidado e de responsabilidade. Eles sabiam o que poderia acontecer, mas deixaram nossos familiares serem enterrados vivos”, destaca.

Na luta, Jacira também encontrou um lugar de pertencimento. 

“Eu nunca imaginei que passaria por isso. Não tinha experiência com associações, mas sabia que, se ficasse em casa, a dor seria ainda maior. Encontrei meu lugar ao lado das outras mães, lutando todos os dias”, relata. 

“Estamos aqui para garantir que nenhum crime hediondo como esse aconteça de novo, que nenhuma mineradora possa causar tanto sofrimento. Não somos contra a mineração, mas contra a mineração que mata. É por isso que a Avabrum luta diariamente. Desde 2019, estou nessa luta e não pretendo parar”, finaliza Jacira.

Edição: Ana Carolina Vasconcelos