Há 300 anos liberais querem liberdade para lucrar, explorar e enriquecer
A palavra neoliberalismo nos leva a pensar que o atual estágio da economia política é uma coisa nova. Mas, há 300 anos, um tesoureiro do Rei da França, de nome Baptiste Coibert, disse a Luiz XIV que os produtores só queriam “Laissez faire, laissez passer, le monde va par lui-même”(deixa fazer, deixa passar, o mundo vai por ele mesmo).
Essa frase, até hoje, é a síntese simbólica da ideologia capitalista. Com isso, os detentores de bens de capital, criaram uma doutrina que lhes deixou o campo livre para explorar, sem limites, a natureza e os seres humanos. O tratamento cruel com os animais era o mesmo para os humanos no regime de escravidão.
Já no século XIX, com a revolução industrial, o proletariado tinha caráter e significado bem diferente da situação atual de trabalhadores de um modo geral. Os operários sofriam da mesma forma que escravos e trabalhadores rurais sem terra. Trabalhavam até 12 horas diárias, sem direito a férias, descanso semanal e licença remunerada para tratamento de saúde. O que recebiam não dava nem para adquirir alimentos. Muito menos, para vestuário, moradia, tratamento de saúde e escola para a família.
Foi mirando essas condições de humilhante submissão da classe trabalhadora que os pensamentos e os movimentos de caráter socialista se desenvolveram. O ideal democrático caminhava paralelo às conquistas sociais, liberdade individual, força coletiva e igualdade.
Nessas condições a tendência era a acumulação de riquezas e o aumento da pobreza. Empobrecendo, o operariado tornava-se cada vez mais dependente, mais subordinado e servil. Naquele momento era impossível pensar uma democracia para formar a cidadania e daí a urgência na emancipação do proletariado. O operariado teria que tomar o poder do Estado, implantar o socialismo e promover uma radical democratização, pela alta consciência adquirida pelo cultivo da crítica, em busca da diminuição das desigualdades sociais.
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No século XX, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, com a proclamação dos direitos universais do homem, com orientação da ONU e para a contenção dos avanços do socialismo, os países em via de desenvolvimento adotaram as recomendações de Keynes, no sentido de manter o sistema liberal capitalista, mas permitir forte atuação do Estado.
A ONU contribuiu para difundir e fomentar políticas públicas visando o desenvolvimento econômico e social em todos os continentes. A partir daí, a social democracia tomou um novo sentido. Embora de caráter híbrido, a social democracia propõe conviver com a economia de mercado e ao mesmo tempo, atuar na economia planificada, visando garantir pleno emprego.
Mas com a desconstrução da União das Repúblicas Socialistas Soviétivas (URSS), em 1985, veio a hegemonia do neoliberalismo e da globalização, criando nova ideologia que despreza a democracia.
A social democracia, em uma falsa premissa, passa a ser vista como um entrave ao progresso; exigindo uma “excessiva” carga tributária para manter o estafe burocrático e os benefícios sociais, como vemos agora no argumento para manter a lei de desoneração da folha de pagamento das empresas.
Além disso, a direita recorre a meios ilícitos para obter lucros fáceis e dinheiro a qualquer custo. É para isso que reclama mais liberdade e demonstra tanto ódio aos ministros do STF. Emblemático do velho “laissez faire”, em nova roupagem, é a declaração do ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles, que em reunião ministerial, afirmou ser o momento de “passar a boiada”, isto é, anular as leis de proteção ambiental e indígenas para depredar a natureza em favor de contrabandistas, madeireiras e garimpeiros ilegais.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.
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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.
Edição: Elis Almeida