Minas Gerais

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Vereadores progressistas dizem que ainda tem ‘muita água para rolar’ na disputa pela CMBH

Enquanto esquerda enfrentava o bolsonarismo no segundo turno, direita articulava a presidência da Câmara Municipal

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Foto - - Abraão Bruck/CMBH

Apenas 24 horas após a divulgação do resultado do segundo turno das eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte, a imprensa divulgou amplamente a realização de uma reunião entre 23 dos 41 vereadores eleitos no município. O encontro, que aconteceu no dia 28 de outubro, teria sido para referendar o apoio dos parlamentares à candidatura de Juliano Lopes (Podemos) para a presidência da Mesa Diretora do Legislativo da capital mineira. 

Na quarta-feira (6), o prefeito reeleito Fuad Noman (PSD) afirmou, em reunião com os vereadores, que não vai indicar nenhum nome para concorrer ao cargo, que será definido no dia 1º de fevereiro do ano que vem. 

A meses da eleição, as movimentações acontecem nos bastidores em função do novo rearranjo da Casa. Enquanto o grupo denominado como “família Aro”,  liderado pelo secretário estadual da Casa Civil de Minas Gerais, Marcelo Aro, dá como certo que Juliano Lopes será o próximo presidente da CMBH, parlamentares da esquerda acreditam que ainda há “muita água para rolar”. 

“Eu não tenho dúvida de que esse grupo de 23 não está consolidado. Na realidade, as conversas, os acordos e os entendimentos continuam. Estamos há dois meses da eleição e eles queimaram a largada”, avalia o vereador Bruno Pedralva. 

“No segundo turno, estávamos muito preocupados em derrotar o Bruno Engler e livrar Belo Horizonte do bolsonarismo. Mas Marcelo Aro até disse que a cidade estaria em boas mãos, independente de quem fosse eleito. Para o Aro, era a mesma coisa. Então, ele se empenhou já na disputa pela Câmara Municipal e foi fazendo as articulações”, continua.

O grupo que diz apoiar a candidatura da família Aro é composto por parlamentares do Podemos, PP, PRD, PL, DC, Novo, Solidariedade, Mobiliza, Republicanos, Cidadania, PCdoB e PV. 

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Edmar Branco (PCdoB) e Wagner Ferreira (PV) declararam, após a reunião do dia 28, que o posicionamento em relação à composição da Mesa Diretora não tem relação com o processo de formação da base do governo na CMBH. Segundo eles, a movimentação recente seria, na verdade, para tentar posicionar bem o campo progressista na disputa.  

Todavia, na avaliação de Bruno Pedralva, além de precipitada, a atuação do grupo articulado por Marcelo Aro  visa isolar a esquerda e tornar Fuad Noman refém da CMBH.

“A forma como a articulação foi construída não nos incluiu na discussão. Vamos fazer um debate proporcional? A esquerda tem 9 vereadores, o grupo do Aro tem 8, o PL tem 6, o Novo tem 3. Vamos fazer uma discussão real para termos proporcionalidade na Mesa Diretora. O que a gente não topa é ser isolado em uma ação política que visa deixar o Fuad de joelhos para a Câmara Municipal”, defende. 

Momento de avaliação

Luiza Dulci (PT), eleita para o seu primeiro mandato como vereadora de Belo Horizonte, também acredita que o objetivo da movimentação é demonstrar força diante da prefeitura e da renovação da Câmara. 

Segundo ela, há uma expectativa de que a prefeitura se organize em torno de uma candidatura mais alinhada ao campo democrático. 

“Eu acho que ainda tem muita água para rolar. Há uma expectativa de que o campo em torno da prefeitura se organize também em torno de uma candidatura mais do campo democrático, porque na movimentação dos 23 vereadores existem dois pólos que chamam a atenção, o partido Novo e o PL”, explica. 

“Na bancada do PT, queremos fazer uma leitura desse cenário e ter uma candidatura que pudesse nos representar melhor. Para nós, é importante mantermos um espaço para críticas e posicionamentos sobre as temáticas que mais nos tocam, como as ambientais e sociais”, continua Luiza. 

A vereadora eleita do PT ainda destaca para a possível tentativa de emular no Legislativo municipal um cenário parecido com o que existe na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), onde os diversos campos políticos estão representados na Mesa Diretora.

“Mas a realidade da Mesa da Câmara de Vereadores é que o presidente tem um poder muito maior do que nessas outras Casas Legislativas. Então, ter alguém como secretário, vice-presidente no caso aqui da Câmara de BH, não tem o mesmo peso que a gente observa nas outras Casas”, avalia. 

Para não incorrer no risco de tomar nenhuma decisão precipitada, Iza Lourença, vereadora reeleita pelo PSOL, explica que a esquerda está analisando e avaliando qual deve ser o melhor posicionamento na disputa. 

“A eleição da Mesa Diretora da CMBH tem um dificultador em relação às outras Casas Legislativas porque não garante a representação da minoria. Ou seja, quem ganha pode isolar  o outro grupo. Isso dificulta o debate político sobre a composição da Mesa, fazendo com que os vereadores abram mão do debate político para não correrem o risco de ficarem isolados”, explica. 


     

Edição: Elis Almeida