"A comunidade ficou acordada a noite toda"
A comunidade quilombola do Baú, em Araçuaí (MG), no Vale do Jequitinhonha, voltou a denunciar ataques de fazendeiros em suas dependências. O último episódio aconteceu na segunda-feira (11), perto das 18h, no qual homens armados cercaram o território, disparando tiros próximos às casas.
“O carro passava pela estrada, eu ouvi o tiro, mas fiquei tranquilo, achando que fosse algo na estrada. Daqui a pouco chegaram várias pessoas da minha família do quilombo, que moram mais perto, correndo para a minha casa. Eles disseram que tinham ouvido outros tiros e que parecia que o carro estava voltando. Então percebi que era algo grave”, relatou o quilombola e defensor dos direitos humanos, líder Antônio Cosme.
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Segundo ele, a comunidade tentou contato com a polícia, que chegou no território mais de uma hora depois, e não conseguiu identificar os suspeitos.
“Nós ficamos em alerta a noite toda, e toda a comunidade que estava presente se reuniu aqui em casa. Ficamos acordados até cerca de 3h da manhã, todos no terreiro, atentos e olhando, pois ninguém conseguiria dormir. Alguns voltaram para suas casas ao amanhecer”, lamentou Antônio.
No dia 6 de novembro, a pedido da própria comunidade, a Comissão das Comunidades Quilombolas do Vale do Jequitinhonha e a Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais (N’GOLO) reuniram-se com o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, a Defensoria Pública da União, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e outras instituições e movimentos para denunciar as ameaças que colocam em risco a integridade dos quilombolas do Baú.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG), em meio a esse processo de mobilização, a comunidade foi alvo desse atentado.
“A CPT-MG repudia veementemente essa violência brutal contra a Comunidade Quilombola do Baú e exige das autoridades uma resposta enérgica e imediata, com uma investigação célere, proteção efetiva às vidas dos quilombolas que lutam pelo direito à regularização dos seus territórios e punição rigorosa aos executores e mandantes deste atentado”, declarou a entidade, em nota.
Segundo o tenente Vitor não foram identificados suspeitos.
Cerco histórico
Essa não foi a primeira vez que a brutalidade ameaçou a comunidade. Em abril deste ano, Antônio Cosme recebeu ameaças de morte após a divulgação de um Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), documento crucial para a regularização fundiária do território, realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As ameaças teriam partido de proprietários rurais locais.
:: Relembre: Líder do Quilombo Baú (MG) é ameaçado de morte após delimitação do território ::
Antônio Cosme está incluído no Programa de Proteção aos(às) Defensores(as) de Direitos Humanos de Minas Gerais (PPDDH/MG) desde 2014. Além de Antônio, o programa atende mais 19 lideranças quilombolas de 15 comunidades remanescentes de quilombo no estado.
O PPDDH, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos, tem por objetivo oferecer proteção às defensoras e aos defensores de direitos humanos, comunicadores e ambientalistas que estejam em situação de risco.
Na terça-feira (12), o Ministério dos Direitos expressou solidariedade aos quilombolas do Quilombo Baú.
“O Ministério repudia veemente qualquer ato de violência ou intimidação que ameace a segurança e a dignidade das comunidades quilombolas, especialmente, em um momento crítico de luta por direitos históricos. A situação exige respostas urgentes e coordenadas, com medidas de proteção e investigação rigorosa, além do fortalecimento de políticas públicas que protejam e apoiem essas comunidades, para que situações como esta não se repitam”, destacou a pasta, em nota.
Edição: Elis Almeida