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Entre celebração, dor e luta: a consciência negra no Brasil

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Reprodução - Redes Sociais
A contradição de um país construído pelo povo preto, mas carregado de ódio racial

Cansada. É assim que me sinto, mesmo enquanto celebramos o primeiro feriado nacional da Consciência Negra na história do Brasil. É impossível ignorar que, enquanto o país avança ao garantir uma data para honrar a memória de Zumbi dos Palmares e reconhecer a luta histórica da população preta, as manchetes escancaram o racismo estrutural.

Em Itaúna, Djalma Rosa da Costa, um homem negro de 45 anos, foi violentamente agredido com cintadas nas costas por um branco que, em um ato de crueldade inominável, o ofereceu R$ 10 para perpetuar o espancamento. O vídeo do ataque circula nas redes sociais e causa revolta. O agressor, agora preso, responde por racismo e tortura, mas a prisão não apaga a dor nem o simbolismo de mais um episódio que expõe a ferida aberta da discriminação racial no Brasil.

Ironia cruel, a agressão ocorreu no mês em que deveríamos estar celebrando conquistas e refletindo sobre o legado da resistência preta. O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é um tributo à luta de Zumbi e de tantos outros que resistiram à escravidão e sonharam com a liberdade. 

Em 2021, protocolei na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o Projeto de Lei (PL) nº 3.313/2021, para tornar o Dia da Consciência Negra feriado estadual. Este ano, pela primeira vez, a data foi marcada por um feriado nacional, uma decisão histórica do presidente Lula (PT), que sancionou a Lei Federal 14.759, em dezembro do ano passado.

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O que significa celebrar o mês da Consciência Negra enquanto um corpo preto é marcado por chicotadas nas costas? Até quando seremos confrontados com a contradição de um país construído pelas mãos do povo preto, mas carregado de ódio racial? 

Enfrentar o racismo tem sido minha tarefa diária. No parlamento, luto para destinar recursos aos quilombos, preservar o congado, fortalecer os terreiros e garantir que os recursos do Estado retornem ao nosso povo, responsável por erguer esse país.

Participei também da construção coletiva de projetos como as cotas raciais para os concursos estaduais e o Estatuto da Igualdade Racial, um documento com 86 propostas que busca enfrentar os desafios impostos pelo racismo estrutural. Cada uma dessas ações é um passo para reparar injustiças históricas e abrir caminhos de dignidade e emancipação do nosso povo. 

Mas essa tarefa não é só nossa, dos negros. É uma responsabilidade coletiva, que exige o compromisso de toda a sociedade, principalmente dos brancos. Combater o racismo não é favor, é dever.

Andreia de Jesus (PT) é deputada estadual e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

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Leia outros artigos de Andreia de Jesus em sua coluna no jornal Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

 

Edição: Lucas Wilker