Pe. Henrique nunca deixou dúvida sobre sua opção pelos pobres e pelos jovens
Por Luiz Carlos Castello Branco Rena
No próximo dia 27 de novembro, Padre Henrique de Moura Faria entregará ao mundo suas “Memórias de Vida e Luta”, publicado pela Toda Voz Editora. São mais de oito décadas de história que se misturam à minha história e dezenas de outras histórias de adolescentes, jovens, adultos e idosos que com Padre Henrique compartilharam a construção de uma sociedade mais solidária, mais justa e igualitária.
Meu primeiro encontro com Pe. Henrique se deu no final dos anos 1970, nas reuniões e encontros da Pastoral da Juventude (PJ) da Arquidiocese de Belo Horizonte. Foi no esforço de reconstrução da PJ que descobri o homem generoso, o cidadão consciente e o padre comprometido ética e politicamente com os empobrecidos e com os compromissos da Igreja do Concílio Vaticano 2º.
Aos poucos fomos ampliando nossa convivência nos trabalhos de rearticulação e fortalecimento do trabalho com os jovens na Comissão Arquidiocesana da PJ e nas articulações da PJ do Regional Leste II e da CNBB.
Em 1984, convidado pelo Padre Henrique, integrei a Equipe de Formação Cristã do Colégio Marista Dom Silvério de BH. O companheiro de militância eclesial se tornava um colega de trabalho com quem muito aprendi o melhor jeito de lidar com a juventude e seus dilemas. Acolher sem julgar e fazer da escuta atenta uma ação pedagógica que reconhece e respeita a autonomia do sujeito. Aos poucos o colega de trabalho se transformou no amigo, no parceiro de muitas jornadas pessoais e coletivas.
Em 1984 estivemos juntos no Comício das Diretas Já e na Capela do Hospital Madre Tereza, celebrando meu casamento com Adriana.
Teologia da Libertação
Alinhado com a Teologia da Libertação, Padre Henrique nunca deixou dúvida sobre sua opção preferencial pelos pobres e pelos jovens. Pude testemunhar esse compromisso com esses seguimentos da população na prática. Ao longo de décadas, foram muitas iniciativas de apoio ou participação direta ao MST, em ocupações urbanas, ações do movimento estudantil e do movimento sindical.
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As lideranças da Pastoral da Juventude, da Pastoral Universitária, da Pastoral da Juventude do Meio Popular, da Pastoral da Juventude Estudantil e outras juventudes de dentro e fora da Igreja tiveram em Pe. Henrique um aliado fundamental em todas as horas.
O diálogo macro-ecumênico contou com uma participação ativa de Padre Henrique que sempre compartilhou suas ações de solidariedade e momentos de oração com nossos irmãos e irmãs das igrejas evangélicas, do judaísmo e com outras organizações religiosas de tradição africana. Um combatente intransigente do racismo religioso e da intolerância religiosa, inclusive no interior da Igreja Católica. Sempre se posicionou abertamente contra todo tipo de discriminação de qualquer natureza: de raça, de gênero, de classe, de idade e de orientação sexual etc.
Não há como falar do Pe. Henrique sem lembrar sua forte presença na luta pelo Direitos Humanos. Digo, sem medo de errar, que Pe. Henrique é um padre antifascista.
Um intransigente defensor da democracia e dos direitos mais fundamentais da pessoa humana não perdia oportunidades de denunciar os horrores da Ditadura Civil-Militar que ocorriam nos porões da caserna. Foi parceiro de primeira hora de dona Helena Greco na luta pela Anistia e pelo retorno daqueles e daquelas que estavam no exílio.
Contribuiu com a construção de uma política pública de Direitos Humanos na gestão de Patrus (PT), entre 1993 e 1996. Nos últimos anos, desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff, em 2016, emprestou sua voz para denunciar e alertar para o retorno da atuação acintosa das forças fascistas que querem nos impor o retrocesso em todos os campos da sociedade.
Essa vida de engajamento eclesial, social e político assumindo uma posição clara ao lado dos mais vulnerabilizados e empobrecidos, teve um custo alto em muitos momentos da vida pessoal e coletiva de Pe. Henrique. Mas não há arrependimentos no coração do meu amigo pelas escolhas que fez. Convido a todos e todas à leitura dessa história carregada de sentidos e de lições de vida.
Quero expressar minha profunda gratidão por tudo que aprendi na convivência e nos trabalhos que compartilhamos.
Sigamos!!!!
Nós e o mundo precisamos de gente como Padre Henrique.
Luiz Carlos Castello Branco Rena é pedagogo e mestre em Psicologia pela UFMG, membro do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Betim/MG e assessor para Mediação de Conflitos e Prevenção de Violência da Secretaria Municipal de Educação de Contagem/MG. Membro da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos em Minas Gerais (ReBEDH-MG). E-mail: [email protected]
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Elis Almeida