Em novembro, chega às livrarias o livro Memórias de Vida e Luta, do padre Henrique de Moura Faria, uma biografia que transcende as páginas, ao mesclar suas vivências no campo eclesial com momentos cruciais da história recente do Brasil. Conhecido por sua atuação em movimentos de resistência à ditadura militar e por sua defesa incansável dos direitos humanos, o padre utiliza o livro como um testemunho de fé, coragem e compromisso com a justiça social.
A obra não apenas narra episódios marcantes da sua trajetória do presbítero mineiro, nascido em Dores do Indaiá, mas também reflete sobre os desafios contemporâneos. Em entrevista ao Brasil de Fato MG, o autor compartilha os bastidores da construção da biografia, relembra os desafios enfrentados e destaca as lições que essa narrativa histórica traz para as gerações atuais.
Confira a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato MG - O que o motivou a escrever "Memórias de Vida e Luta" e compartilhar sua trajetória com o público?
Padre Henrique de Moura - Vou fazer 80 anos e comecei a pensar que deveria escrever sobre a minha vida rica de memórias e lutas, para ajudar as pessoas a não desanimarem frente às dificuldades e manter a esperança na luta.
Como foi o processo de relembrar e registrar tantas experiências marcantes? Houve momentos especialmente difíceis ou emocionantes de revisitar?
Foi muito difícil escrever. Tinha que escolher um pouco das experiências, porque se não o livro ficaria muito grande. Foi emocionante relembrar tantas coisas que havia esquecido, usando minhas agendas e anotações para escrever.
Seu livro mescla relatos eclesiais com aspectos sociais e políticos. Como a sua fé influenciou na sua participação nos movimentos de resistência à ditadura militar?
Minha fé, iluminada pela Teologia da Libertação, foi um elemento fundamental para viver e escrever as memórias, vivenciando minhas esperanças e lutas para escrevê-las.
Pode compartilhar algum episódio específico narrado no livro que representa bem sua luta pelos direitos humanos?
É difícil tentar escolher dois aspectos, mas a luta na defesa de pessoas sofrendo na ditadura, com o apoio e a amizade de Helena Grecco e o trabalho com o Instituto de Direitos Humanos, foram situações muito importantes na minha caminhada.
A resistência à ditadura e a defesa dos direitos humanos exigiram coragem e sacrifícios. Como essas experiências moldaram sua visão de mundo e sua atuação como padre?
Minha visão do mundo foi amadurecendo desde que trabalhei nas fábricas na Europa e na visão proporcionada pelo Concílio Vaticano II. Aqui no Brasil, a luta dos Direitos Humanos e contra a ditadura foram me ajudando a construir o Reinado de Deus, a partir da libertação dos pobres e da ajuda para a libertação deles.
Quais paralelos você percebe entre os desafios enfrentados durante o período da ditadura e as lutas sociais no Brasil contemporâneo?
A luta permanece urgente e necessária. As condições sócio-políticas mudaram muito. Temos que buscar caminhos novos, usando as redes sociais e encontrando meios de motivar o povo a ir para as ruas.
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Na sua opinião, qual a importância de resgatar essas memórias em um momento em que enfrentamos uma onda de revisionismo histórico no país?
Sem memória a luta não caminha. Mas não podemos ficar presos ao passado. A memória tem que nos ajudar a ser criativos e buscar o futuro na luta e na esperança.
Como o livro dialoga com as novas gerações, que não vivenciaram a ditadura, mas enfrentam desafios políticos e sociais?
Espero que o livro ajude a conhecer a ditadura. Ditadura nunca mais! E que, cheios de esperança, encontremos coragem e força na luta pela construção de um mundo justo, solidário, terno e amoroso.
O que você espera que os leitores levem consigo ao terminar de ler "Memórias de Vida e Luta"?
Espero que, após a leitura do livro, as pessoas se sintam motivadas a perceber que todos(as) podem vencer e lutar, com alegria e esperança na construção de um Brasil realmente novo, acolhedor e inclusivo. A luta permanece e continua.
O livro é lançado em parceria com o Movimento Nacional de Direitos Humanos em Minas Gerais (MNDH-MG) e suas entidades filiadas.
Serviço
O lançamento e noite de autógrafos acontece no dia 27 de novembro, às 19h, no salão da Igreja da Boa Viagem - Rua Sergipe, 175, Belo Horizonte.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos