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Eleições 2024, favelas e o voto

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Divulgação - UFMG
Momento exige otimismo e a atenção cotidiana dos fatos

Por João dos Reis Silva Júnior, para a série da Coluna Cidade das Letras “Sobre a perplexidade da esquerda”

Escrevo este texto de opinião, atento às notícias cotidianas. Considerando o que aconteceu nas eleições deste ano, mostra sinais de alerta para a esquerda brasileira.

Apesar do indiciamento dos golpistas de 8 de janeiro pela Polícia Federal, cujos processos se encontram junto à PGR que deverá se manifestar no início de 2025, é clara a hegemonia da direita e da extrema direita; e do bolsonarismo, expresso na figura de Tarcísio de Freitas, isto é, sem Bolsonaro. É possível notar que o fascismo ainda está muito forte, mantido por sentimentos e menos por reflexão. Há o sequestro da racionalidade levado a cabo pelo bombardeio de milhões de notícias na mídia empresarial impressa, televisiva e nas redes sociais.

Conservadorismo e a geopolítica

Na geopolítica mundial, a extrema direita segue trajetória similar. A tendência conservadora e nacionalista amplia-se na Europa e nos Estados Unidos, influenciada por fatores sociais, econômicos e políticos. Na Europa, o conservadorismo ganha força em vários países, com líderes como Viktor Orban na Hungria e Giorgia Meloni na Itália.

Esses movimentos frequentemente se opõem à imigração, à União Europeia e promovem políticas nacionalistas. A juventude europeia também demonstra aumento no apoio a esses partidos.

Nos Estados Unidos, a reeleição de Donald Trump tem sido um ponto de preocupação para muitos líderes europeus, pois sua política populista e isolacionista pode influenciar a extrema direita no continente. Trump continua a ser uma figura central para muitos movimentos de extrema direita globalmente, com seu estilo de liderança e retórica influenciando líderes em várias partes do mundo.

A ascensão da extrema direita não é um fenômeno isolado. Ela está conectada a uma rede global de líderes e movimentos que compartilham ideais conservadores e nacionalistas. Essa tendência tem implicações significativas para a política global, incluindo a estabilidade das democracias e as relações internacionais.

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Brasil

Aqui, as direitas venceram ou alcançaram percentagens significativas dos votos. Em outras, onde o trabalho se apresenta mais organizado, os partidos de centro e centro-direita aparecem com condições de governabilidade. Em Minas Gerais, o Partido dos Trabalhadores (PT) teve um bom desempenho, especialmente em áreas urbanas. Em São Paulo, o Partido Social Democrático (PSD) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) conquistaram várias prefeituras, mostrando força no centro político. No Nordeste, confirmou-se a tendência eleitoral. Na Bahia, o PT e o Partido Socialista Brasileiro (PSB) mantiveram uma presença forte, com vitórias significativas em várias cidades. Em Pernambuco, o PSB continuou a ser um dos partidos mais influentes, com várias prefeituras sob seu controle.

No Pará, o MDB e o PSD também tiveram um desempenho notável, conquistando várias prefeituras. No Sul, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) obteve vitórias importantes na esfera urbana.

Favela e a ausência das esquerdas

Diante desse quadro, é difícil pensar nos desafios da esquerda sem recorrer à história. A escravidão tem um significado cruel. Parece que urge que tenhamos nova abolição da escravidão no país. Quais os significados da abolição? Ela foi uma indenização dos oligarcas, proprietários dos pretos e pardos, e, ao mesmo tempo, uma ação de despejo.

Os escravos libertos migraram para as cidades sem moradias, sem empregos e sofrendo repressão e preconceitos de toda ordem, foram para as favelas, que cresceram à margem do Estado.

As favelas abrigam mais da metade da população brasileira. Por estarem à margem do Estado, são assistidas pela filantropia, organizações não governamentais, igrejas neopentecostais, milícia e crime organizado. Vivem com medo e buscam ajuda com os pastores; autoridades na favela. Parece-me que aí reside o desafio das esquerdas. As esquerdas se afastaram dos trabalhadores enquanto as direitas se aproximaram.

O implacável cerco aos investimentos em políticas públicas sociais atenta contra as esquerdas. O que fazer? A escolha significa a desumanização ou a possível perda de governabilidade diante dos rentistas, dos produtores de combustível fóssil e dos empresários das redes sociais.

A saída pode estar no presidente Lula, maior que o PT e, talvez, no contexto mundial, nos BRICs. Neste contexto, é importante a taxação dos ricos e dos militares. Lula afirmou em entrevista a Leonardo Sakamoto, “só existem dois governantes mais experientes do que eu; Dom Pedro II e Getúlio Vargas”. O momento exige o otimismo; e a atenção cotidiana dos fatos.

João dos Reis Silva Júnior é professor titular da Universidade Federal de São Carlos e pesquisador no Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania-FFLCH-USP.

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Este é o segundo artigo da série Sobre a Perplexidades das Esquerdas, organizada pela Coluna Cidade das Letras

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida