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Felicidade: existência saudável ou consumismo?

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Homem-massa é dominado pela propaganda comercial

Neste mês de dezembro a palavra felicidade estará presente na boca, no coração de cada um e no inconsciente coletivo. Por isso achamos oportuno refletir sobre ela.

A felicidade, ou seu antônimo, é puramente conceitual. Para alguns filósofos, felicidade é um sentimento de bem-estar, contentamento e alegria. Para Aristóteles, a felicidade é o equilíbrio e a harmonia; prática da filantropia; capacidade de amar e perceber que é portador de uma alma.

Os humanos, nos primeiros instantes de vida trazem no DNA somente a memória biológica, mas vai acrescentando a esta a capacidade de percepção, reconhecimento, hábitos, convívio social fixado por meio de mitos; relatos registrados em documentos, nomes de pessoas, lugares, medida do tempo e tudo que faz parte da vida humana individual e coletiva. Tudo isso fica gravado no cérebro humano, em uma parte chamada neocortex desenvolvido na espécie, há milhões de anos.

O que existe, na realidade, são momentos de bem-estar e não a felicidade plena. O filantropo tem maior satisfação na vida, enquanto o avarento nunca se contenta com o que tem e ambiciona ganhar infinitamente.

Para Zenão de Cítio (335-264 AC) fundador do estoicismo, os sábios que conseguem eliminar as paixões, o ódio e a concupiscência é que podem viver feliz. Para o Taoismo, fundado pelo chinês Lao Tzu (571 AC) Os indivíduos devem considerar-se parte da natureza e viver de acordo com ela; buscar o equilíbrio entre os opostos; a moderação dos desejos e a compaixão, que hoje é o mesmo que empatia.

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O Estoicismo e Taoismo não estão em desacordo com a ciência e a filosofia modernas. Sigmund Freud (1856-1939) mostrou como o Ego é uma das três partes da personalidade humana. Ele é regido pela cultura e o meio em que vive o indivíduo. Por isso, estamos divididos entre o principio do prazer, que não conhece limites, e o princípio da realidade que nos impõe limites internos e externos.

Ego e homem-massa

Cabe ao Ego encontrar caminhos para a angústia existencial. Por outro lado, é o Ego que incrementa os sentidos naturais, levando o indivíduo a diversas formas de crimes. O neurocientista americano Daniel Goleman afirma que o indivíduo desprovido de empatia tem mente insana, sendo propenso a cometer crimes hediondos como: estupro de incapaz, incesto, feminicídio, latrocínio e chacina. Para desencargo de consciência mentem para si mesmo, dizendo, por exemplo, que as mulheres só se fazem de difíceis e que as crianças não sofrem com a prática sexual.

Quando o ego supera os valores educacionais, o indivíduo é infeliz porque se sente perdido na insegurança de suas escolhas e angústia de sua incompletude.

O homem-massa contemporâneo é dominado pela propaganda comercial e influenciadores a serviço do neoliberalismo, que atribuem felicidade ao consumo de bens materiais. Isso aumentou a ambição pelo dinheiro a ser adquirido de forma lícita ou ilícita. Essa situação acentua o egoísmo e a pouca consciência de si mesmo, não sabendo mais lidar com os infortúnios, tornando-se mais distante da felicidade e despreparado para enfrentar os riscos da existência.

A ciência contemporânea não se distancia da teoria do Taoismo, pois quem vive em contato com a natureza, rios, matas, pomares, florestas, lagos e mares; e crianças que podem brincar ao ar livre, sem objetos industrializados, têm existência mais saudável.

O cancioneiro brasileiro registra essas condições: Casimiro de Abreu: “Meus oito anos”; Gonçalves Dias, em “Canção do Exílio”; Agnaldo Timóteo, “os verdes campos de minha terra”; Chitãozinho e Xororó, “Saudade de minha terra”.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.

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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida