Minas Gerais

CONTRADIÇÃO

Copasa é destaque global em sustentabilidade, enquanto parlamentares debatem sua privatização

Reconhecida pela revista Time, empresa mineira é exemplo de eficiência, mas pode ser vendida pelo governo Zema

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Foto - Reprodução

A revista norte-americana Time listou a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa)  entre as 500 empresas globais que melhor aliam desempenho financeiro e práticas sustentáveis. A empresa pública mineira está posicionada no 118º lugar no ranking geral e é avaliada também como a melhor empresa brasileira do setor de saneamento, segundo o texto divulgado no dia 27 de novembro. 

Este não é o único destaque recente da Copasa. Em rankings nacionais, a empresa foi listada entre as mais consistentes em crescimento financeiro e as que mais avançaram nas práticas de ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). Além disso, a companhia está entre as integrantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3. 

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No entanto, enquanto a Copasa acumula prêmios e números positivos, além de um lucro líquido de R$ 1,3 bilhões em 2023 e previsão de mais de R$ 2 bilhões em investimentos em saneamento para 2024, o governador Romeu Zema (Novo) avança com uma proposta para privatizar a empresa. A medida, encaminhada à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em novembro, tem gerado preocupações entre a população, os trabalhadores e especialistas. 

Sindicalistas alertam sobre os riscos da privatização

Para Wagner Xavier, integrante do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto de Minas Gerais (Sindágua-MG), a tentativa de privatizar a Copasa desconsidera os avanços alcançados pela companhia.

“A Time reconheceu a Copasa como a melhor empresa de saneamento do Brasil. Isso demonstra que o discurso do governador Zema e do vice, Mateus Simões, sobre a necessidade de modernização, é frágil. A Copasa é lucrativa, eficiente e tem caixa robusto para resolver os problemas de saneamento do estado. O que falta é vontade política por parte do governo”, argumenta Wagner.

Segundo o sindicalista, os riscos da privatização recaem especialmente sobre as pequenas cidades de Minas Gerais onde a empresa atua. 

“A privatização vai deixar essas populações reféns de grupos privados que têm como único objetivo o lucro. Serviços essenciais como abastecimento de água e esgotamento sanitário podem se tornar ainda mais caros e precários”, alerta.

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Polêmica na Assembleia Legislativa

Os projetos de lei enviados à Assembleia no último mês pelo governo estadual encontram resistência de setores da oposição, como o Bloco Democracia e Luta. Com os PLs, o governador também tenta privatizar a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). 

:: Relembre: Cemig e Copasa: especialistas apontam riscos em projetos de privatização de empresas de saneamento e energia em MG

Em nota, o bloco destacou que “privatizar a água e a energia elétrica é um grave retrocesso para Minas Gerais”, e apontou problemas decorrentes de modelos privatizados em outras localidades, como apagões e serviços de baixa qualidade.

O deputado Betão (PT), presidente da Comissão do Trabalho na ALMG, também se manifestou contra o projeto em suas redes sociais.

“Experiências dentro e fora do Brasil mostram que a privatização de serviços essenciais encarece as tarifas e não resolve os problemas estruturais”, afirmou.

População mineira já decidiu 

O Plebiscito Popular em Defesa das Estatais de Minas Gerais consultou a população de todas as regiões do estado, entre os dias 19 de abril e 1º de maio deste ano, sobre o futuro das empresas públicas mineiras. Belo Horizonte, Almenara, Uberaba, Juiz de Fora, Montes Claros, Barbacena, Contagem, Santa Luzia, Passos, Caxambu, Diamantina e Teófilo Otoni são apenas alguns dos mais de 120 municípios onde a mobilização aconteceu. 

:: Saiba mais: Plebiscito popular consulta mais de 300 mil em MG e 95% é contra privatização das estatais :

Mais de 300 mil mineiros participaram do plebiscito e, desse número, 95% acreditam que a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) devem continuar públicas. 

A coleta de votos, organizada e protagonizada por aproximadamente 500 organizações sociais e sindicais, teve o objetivo de promover o direito à participação popular em um dos temas mais recorrentes desde que Romeu Zema (Novo) assumiu o governo estadual: as privatizações. 

 

Edição: Lucas Wilker