Em audiência pública realizada na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), na quarta-feira (4), parlamentares, sindicalistas, movimentos populares e instituições debateram o fim da escala 6x1 na capital mineira.
Em âmbito nacional, o assunto foi destacado recentemente no Congresso, a partir de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada federal Erika Hilton (Psol) e pelo vereador eleito no Rio de Janeiro Ricardo Azevedo (Psol).
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
“A escala 6x1 é um tema central para o próximo período, principalmente porque diz sobre a realidade de milhares de trabalhadores em todo o país. A diminuição da jornada de trabalho é uma questão de ter dignidade. É desumano a pessoa não ter o mínimo de tempo para conviver com a família, descansar, estudar ou até mesmo cuidar da saúde. É uma lógica escravocrata: trabalhar até a exaustão para enriquecer empresários que já são milionários”, defende Iza Lourença (Psol), uma das parlamentares que convocou a audiência.
Além dela, a atividade no legislativo belo-horizontino foi convocada pela vereadora Cida Falabella (Psol), e pela deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), em parceria com o movimento Vida Além do Trabalho (VAT).
Importância da discussão
No encontro, presidido por Iza, a vereadora apresentou pesquisas que endossam a necessidade de defesa do fim da escala 6x1. Entre os motivos, foram destacadas questões como o fato de o Brasil ser o segundo país do mundo com mais casos de burnout. Além disso, segundo o documento apresentado, brasileiros trabalham mais que a média mundial.
“Oito em cada dez mulheres vivem dupla jornada, com afazeres domésticos. Dizem que a economia vai quebrar: já foi falado isso no debate do décimo terceiro, na CLT e no fim da escravidão”, argumentou a parlamentar.
Cida Falabella apontou a importância de municipalização do debate, sobretudo porque, ao discutir o fim da escala 6x1, a sociedade volta a falar sobre consciência de classe.
“É fundamental lembrar que existe uma divisão do trabalho e que existe uma exploração do trabalhador. Toda vez que há uma reforma que busca transformar isso, os de cima se revoltam. A frase ‘vida além do trabalho’ diz muito: as pessoas querem criar, passear, ter direito ao lazer”, lembrou a parlamentar.
O vereador Dr. Bruno Pedralva (PT) também endossou a necessidade da audiência. “Nós, enquanto poder público municipal, temos a obrigação de discutir a jornada dos trabalhadores da PBH”, reforçou.
Desafios da classe trabalhadora
Integrante do VAT, Lucas Sidrach destacou que o debate também permeia uma realidade maior do que as pessoas que estão organizadas pelo fim da escala.
“Diminuir a escala de trabalho é gerar mais emprego para outras pessoas, sobretudo em tempos de evolução tecnológica. Não estamos falando somente de pessoas que trabalham, mas de vítimas, que perderam momentos com seus familiares”, salientou.
“Queremos ter a liberdade de praticar nossas religiões, consumir arte e cultura, estar em casa e simplesmente não fazer nada, ter direito ao descanso. Entendemos que a vivência é individual, mas a luta sempre será coletiva”, continuou.
Bruna Silva Miranda, também representante do VAT, teve que abandonar a escala 6x1 para se dedicar à maternidade. Na CMBH, ela ressaltou que a maior parte das mães brasileiras precisam fazer escolhas: ou se dedicar à carreira, ou ficar em casa cuidando dos filhos.
“O fim [da escala] impacta não só na criação de nossos filhos, mas no progresso da sociedade brasileira. Perdi muitas coisas, já cheguei a ver a minha filha chamar a minha mãe de mãe”, disse. “O diálogo com chefes não existe, ou você faz hora extra ou perde seu sustento e muitas vezes a gente se vê escravizado por um salário mínimo”, lamentou.
José Alves Paixão, do Sindicato dos Empregados do Comércio, também argumentou que a escala 6x1 deve ser chamada de escravidão. Entre os trabalhadores do comércio, segundo ele, ainda há o agravante de “cumprimento de metas”.
“O trabalhador vai buscar aquela meta porque se não, no terceiro mês, ele será mandado embora. Aí vem o adoecimento, o assédio moral, sexual, em cima dos trabalhadores e trabalhadoras. Vemos trabalhadores falando que cansam mais dentro do ônibus do que trabalhando”, pontuou.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos