O Brasil é imenso, e essa diversidade merece ser vivida. Participe!
Sobre a história e a memória do Projeto Rondon no Brasil podemos citar diversos textos e livros. Destaque para as produções de Aricildes de Moraes e Luiz Nery que contaram em quatro tomos a história oral do Projeto Rondon e a participação do Exército Brasileiro; do livro da rondonista Maria Lucimar Albuquerque, de Brasília, que trata da metodologia e da execução em campo; da obra de Renato Luiz Fonseca que trata da influência do projeto na formação dos psicólogos e os relatos dos rondonistas de medicina do Amapá na obra “Faceres no Projeto Rondon: transformação e formação de multiplicadores”.
Mas as vivências e histórias dos universitários em campo dariam cem livros! Cada equipe de rondonistas vive momentos memoráveis a partir do encontro com as comunidades onde atuamos. São trocas intensas com a cultura dos povos do interior do Brasil, seus conhecimentos da terra e estratégias de sobrevivência. De norte a sul do país, vemos os universitários aprendendo e ensinando com as pessoas mais vulneráveis em sua condição social, mas ricas em saberes tradicionais, histórias de vida e superação de dificuldades ao acesso aos direitos à saúde, à educação, à assistência social e a um meio ambiente favorável ao conforto das famílias.
O Projeto Rondon, desde a sua criação em 1967, já promoveu a participação de mais de 300 mil estudantes brasileiros e estrangeiros (intercâmbio internacional com o Canadá, Peru e Bolívia). É um sucesso o processo de interiorização das ações de extensão universitária capaz de colocar o conhecimento científico a serviço das comunidades e ao mesmo tempo formar alunos e professores por meio das discussões e vivências das questões sociais no encontro com a realidade fora dos muros da universidade.
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Uma dessas histórias é contada pelo rondonista Marcelo Amorim, que é dentista e rondonista mineiro e participou da Operação XXlV, em janeiro de 1980, com colegas da Universidade de Brasília (UNB) e que atuaram na cidade de Boca da Mata no Estado de Alagoas.
Confere aí o relato dele:
“Que alegria compartilhar minha experiência no Projeto Rondon, um verdadeiro projeto para a vida! Sou mineiro, nascido em Teófilo Otoni, no nordeste de Minas Gerais.
Estudava no 5º período de Odontologia quando, ao me inscrever pela UFMG, fui surpreendido com o convite para integrar uma equipe da Universidade de Brasília (UNB). Com um misto de surpresa e entusiasmo, aceitei o desafio de iniciar essa jornada.
Partimos de Brasília em um ônibus, numa viagem prevista de cerca de 50 horas até Alagoas. Era a primeira vez que saia de Minas, e a cada quilômetro percorrido, minha euforia só aumentava. Cruzei estados, paisagens e histórias, carregando no peito a expectativa de viver algo único.
Chegamos a Boca da Mata, em Alagoas, onde fomos recebidos com uma hospitalidade que aqueceu o coração. Sob a coordenação impecável da Sônia, mergulhamos nas atividades do projeto. Dentro da minha área, contribuí com tudo o que meu conhecimento permitia.
Visitamos comunidades espalhadas pelo sertão alagoano, cercadas por vastos canaviais e antigas usinas de açúcar. O contato com a população local foi algo indescritível: o sotaque cantado, as tradições enraizadas, a culinária rica e os costumes que transbordavam identidade.
Por lá, ganhei o apelido de "Mineiro" e, com meu aparelho ortodôntico brilhando ao sol, virei quase um extraterrestre para a região. No final dos dias, as prosas eram longas. Queriam saber tudo sobre Minas Gerais, sobre minhas origens, e assim, histórias iam e vinham entrelaçando nossas culturas.
A vivência no Projeto Rondon foi transformadora, tanto pessoal quanto profissionalmente. Aprendi sobre trabalho em equipe, gestão de conflitos, planejamento e, acima de tudo, ganhei confiança para exercer a profissão que amo e que sigo há 43 anos.
É impossível relatar tudo em poucas linhas – a experiência renderia muitas páginas. Mas uma certeza fica: precisamos apoiar o Projeto Rondon. Nosso Brasil é imensamente diverso, e essa diversidade merece ser vivida e valorizada.
Saudações rondonistas! Universitários, participem! Essa é uma oportunidade que transforma vidas”.
Relatos e experiências como do rondonista Marcelo se repetem a cada ano desde 1960. Muitas histórias para contar, muito aprendizado e muito talento da juventude brasileira em prol do Brasil!
Monica Abranches é presidente do Projeto Rondon Minas & Marcelo Amorim de Paula é dentista e rondonista de Minas Gerais
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Leia outros artigos sobre o Projeto Rondon em sua coluna no jornal Brasil de Fato MG
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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Elis Almeida