O brutal assassinato de Zaqueu Balieiro, agricultor e líder de acampamentos sem-terra no Norte de Minas, evidenciou os conflitos agrários na região. O tema foi tratado durante audiência pública promovida na última segunda-feira (9) pela comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O crime, ocorrido no fim de setembro, gerou revolta e comoção entre familiares, colegas de luta e lideranças políticas.
Zaqueu, de 45 anos, liderava os acampamentos Tamburi, Terra Preta e Terra Verde, formados em 2021, em terras abandonadas há mais de três décadas. Ele foi assassinado com seis tiros, em uma estrada vicinal próxima ao município de Gameleiras. O suspeito, João José de Oliveira, conhecido como Joãozinho de Olímpio, foi preso no mesmo dia.
Apesar de Zaqueu e Joãozinho concorrerem a vagas de vereador nas eleições deste ano, a motivação eleitoral foi descartada. Parlamentares e militantes que participaram da audiência afirmaram que o conflito pela posse de terras é a verdadeira causa do crime.
Denúncias de milícias rurais e omissão das autoridades
A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL), coautora do requerimento da audiência, apontou para a possível atuação de milícias rurais na região.
“Há indícios de que fazendeiros e grileiros estão por trás dessas ações violentas. Precisamos investigar profundamente e proteger quem luta por direitos no campo”, afirmou.
O delegado responsável pelo caso, Eujecio Coutrim Lima Filho, informou, durante a audiência, que o inquérito inicial foi concluído rapidamente para evitar a soltura do suspeito. No entanto, um novo inquérito sob sigilo foi aberto para investigar possíveis mandantes do crime. Celulares da vítima e do acusado estão sendo periciados.
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Samuel Costa, coordenador do MST no Norte de Minas, destacou, em depoimento, as ameaças constantes recebidas por Zaqueu desde a ocupação das terras.
“Os latifundiários veem nossos avanços como uma ameaça e usam todos os meios para nos intimidar. Esse assassinato precisa ser esclarecido por completo”, disse.
Emoção e luta por justiça
A audiência reuniu mais de 100 pessoas no plenário da Câmara Municipal de Gameleiras, onde familiares de Zaqueu expressaram sua dor. Inconsoláveis, a mãe Clarisse e a esposa Gildete clamaram por justiça, enquanto a plateia respondia com o grito de luta: “Zaqueu, presente”.
“É inadmissível que uma pessoa seja silenciada por lutar por direitos. O tempo agora é de construir caminhos e pontes, não de violência”, afirmou a deputada Leninha (PT), vice-presidente da ALMG.
Além de exigir justiça para Zaqueu, a audiência trouxe relatos de outras comunidades afetadas pela violência no campo. Entre eles, Adair Pereira de Almeida, de Grão Mogol, e Marinalva Mendes da Rocha, de Itacarambi, denunciaram incêndios, invasões e ameaças armadas.
Bella Gonçalves sugeriu a criação de distritos regionais do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) como medida para reduzir os ataques às comunidades rurais.
“A luta de Zaqueu é um exemplo de resistência. Não vamos permitir que o medo vença”, declarou.
*Com informações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
Edição: Ana Carolina Vasconcelos