Minas Gerais

Coluna

Dos Amores

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Reprodução - Agência Brasil
Muitas são as dores dos amantes

Por Telma Souza Santos Viana

“De tudo ao meu amor, serei atento antes e com tal zelo e sempre e tanto que, mesmo em face do meu maior encanto, dele se encante mais meu pensamento”, disse Vinícius, o poeta, de Moraes.

O que é mesmo o amor, esse lindo? O “lindo” é cantado em prosa e verso, cantigas e canções.  Por ele suspiram as mulheres e dele muitas vezes fogem os homens. Às vezes é adverso e muitas vezes controverso. Dele não se pode dizer que seja pragmático e também não é prático.

Penso, será que o amor tem a ver com os sorrisos lindos dos meus filhos? Quem sabe  suas vozes queridas, sonoras e cantadas me procurando, chamando por mim — “mãe?” —, ainda que eu esteja ao toque de suas mãos e a um levantar de olhos?

Ou será o doce olhar de minha própria mãe? Que me contempla e me diz sem uma palavra, o quanto sou amada.  Mães são assim: nos amam com tudo e por tudo, ainda que sejamos o motivo de sua dor.

O amor pode ser assim, muitos nós, nós, de rolo, de confusão. Tantas coisas, tantas dores, muitas flores, sussurros, tantos ais, tantas pessoas, tantos eus, e tantos nós. Aliás, muitos nós. Nesse caso, nós — eu e você. Você e eu — nós. Como em Drummond:

“João amava Teresa, que amava Raimundo,

que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili,

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou e Lili casou com J. Pinto Fernandes,

que não tinha entrado na história”.

O amor pode ser de todos e pode ser só seu, ou todinho meu. Tem gente que ama muito e tem gente que ama pouco. De um e de outro, tenho dó. Há pessoas que têm um amor em cada esquina e tem gente que faz da esquina a sua fonte de amor. Eu não julgo. Isso me disse “Uma Linda Mulher” 

Existem amores que sobrevivem às grandes tormentas, são fortes e verdadeiros. Diremos isso “Ao Orgulho e ao Preconceito”. Há amores que são a tormenta. São destruidores e doentios.

Tem amores que são  como barcos longe do porto, à deriva. Depois de uma tempestade, submergem os amantes, levam-nos ao fundo. Há amores que são tudo e há amores que não são nada. São feitos de espuma das águas do mar.

Existem os amores que te elevam. Eu quero. E há amores que te levam. Desse último, tenho medo. Fujo. Mas há  amores que te trazem; acrescentam, aumentam, satisfazem e te alimentam, com “Razão e Sensibilidade”.

E há amores que atrasam. Esses são os que te destroem, corroem, minam, minguam.

Há o amor que mata e o que morre. Vi isso em uma série antiga, “Quem Ama Não Mata”. E,   consideremos o amor que é doença. Esses nem chamo de amor: eles são tudo, menos amor.

Em Monte Castelo, com a voz de Renato Russo, temos que o amor é:

“É um estar-se preso por vontade.

É servir a quem vence, o vencedor.

É um ter com quem nos mata a lealdade.

Tão contrário a si é o mesmo amor”.

E, para todos, tem os amores que te dão e tem os amores que são. Ah, quero, quero -os. Existe o amor Ágape. Esse me ensina e é altruísta, não é arrogante, não me engana e não me trai. Ele é perfeito. É o mais fácil de se achar. Muitas vezes procura por mim, mas me escondo. Ele me toca e não espera nada em troca. É o amor dos amigos, dos irmãos , dos filhos e dos pais. É o amor DELE, do Eterno. 

Existe o amor Eros. Ah, esse danado. A esse abro meus braços e dou a ele os meus abraços. Sorrio e me entrego. Sacia-me.  É o amor  do amante, do meu amor e da minha carne. Esse é o que me faz sofrer. Busco por ele e ele foge. Dou a ele tudo, inclusive comida e roupa lavada. Pode custar caro ou pode até sair de graça, depende de quem compra. Leia isso em “Memórias de um Gigolô”.

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O amor não é para amadores. Quando é correspondido, vibra e se enche de cores, como nos quadros de Monet.

Quando recebe um “não”, tadinho, se enche de dores. Se quebra em pedacinhos e  compõe belas canções, escreve livros tão lindos, cheios de emoções. Contou Gabo,  em “Cem anos de Solidão”.

Eu cá, só conto o conto, não quero me envolver. Vai que você me olhe nos olhos e  que seus olhos sorriem para mim?  Vai que o seu sorriso me diga coisas. Vai que os meus ouvidos  escutem de seus lábios certas coisas. Vai que de mansinho sua mão encoste na minha. Vai  que eu goste?

Vai que sem querer você me procure. Vai que eu me deixe encontrar? Ai, ai. Vai que seus lábios se juntem aos meus? Vai que eu descubra que eles são seus. Vai que o meu corpo se junte ao seu? Vai que eu goste e te diga que “ele é todo seu”.  Pense em todas as músicas do Vander Lee.

Muitas são as dores dos amantes. As melhores histórias de amor, são feitas de desencontros. Que o diga Beethoven e sua “Amada Imortal”. Quanto mais dor, mais amor. O contrário também é verdadeiro, quanto mais amor, mais dor. Como o amor do livro “O Morro Dos Ventos Uivantes”.

Quanto mais longe, mais perto. Ainda que “Em algum Lugar do Passado”. Os amores impossíveis. E se o amor não for correspondido? Aí, a paixão só aumenta e o corpo só lamenta. Os pensamentos correm soltos buscando o ser imaginado. Sim, é verdade, quando amamos, nós vemos no outro um ser perfeito, imaculado, lindo e nosso, ainda que não seja.

Mas vá lá, diga a um amante que ele ou ela é louca, ou louco. Vai, diga. Tem coragem? Verás olhos bravos, boca crispada e narinas ofegantes. Eu não digo. Mas, contarei de um amor que tive, era lindo, suave e másculo.

Eu o conheci em um dia de muita chuva Vinha eu andando pela rua , molhada de chuva e de lágrimas. Acabara de perder o meu emprego e já pensava nas dificuldades que encontraria  pela falta do dinheiro mensal. Esbarrei num homem, mas, antes que eu caísse ao chão, ele me tomou nos braços e dali não sai. 

Olhei para ele e me perdi em seu olhar. O cabelo escorrendo pelo rosto, uma boca grande com dentes limpos que me disse: “Tudo bem?”. Esqueci tudo, inclusive as contas. Eu, meio tonta, não falando “coisa com coisa”, disse “sim” e dele nunca mais me livrei. E nem quero.

Em Luciano Mendes, temos posto que seu amor, “Litterae Breves”, diz:

“É cedo.

É esquecimento.

É pregnância.

É o manto branco.

É o abraço.

É a praça.

É o beco.

É o sossego.

É a partida.

É a ferida.

É o pulo do gato.

É o abano.

É a cesta.

É tudo de novo.

É o velho.

É a distância.

É a maquiagem.

É a carranca. 

É o tudo.

É o nada.

É a lembrança. 

É o terno. 

É o áspero. 

É o beijo.

É a esperança”.

Telma Souza Santos Viana é aluna do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e aprendiz de escritora.

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Leia outros artigos sobre educação e literatura na coluna Cidades das letras: Literatura e Educação no Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

 

Edição: Ana Carolina Vasconcelos