Minas Gerais

ESCALA 6X1

Trabalhar no Natal: a luta por dignidade nas jornadas exaustivas da escala 6x1

Trabalhadores relatam desafios da escala 6x1 e a dificuldade de celebrar o Natal com seus entes queridos

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Em Minas Gerais, setores como comércio, serviços e indústria são os que mais empregam sob a escala 6x1 - Foto: Roberto Dziura Jr/AEN

O Natal é uma das datas mais simbólicas do calendário, marcada por reencontros, celebrações e momentos de pausa para compartilhar com a família. Mas, para milhares de trabalhadores brasileiros, essa realidade está distante. A rotina imposta pela escala 6x1 – que exige seis dias consecutivos de trabalho para um de descanso – impede que muitos vivenciem o espírito natalino em casa.

“Eu sou vendedora há 17 anos e sempre trabalhei no comércio. A escala é desumana. Quando eu folgo, fico cansada, sem disposição. Só quero dormir”, desabafa uma vendedora, que trabalha em um shopping, e preferiu não se identificar por medo de represálias. 

“Vejo meu filho quando chego do trabalho e vejo minha esposa só quando vou dormir. Vou trabalhar no dia 24/12 e não terei tempo nem de preparar um chester para a minha família”, completa.

A realidade descrita pela trabalhadora não é isolada. Em Minas Gerais, setores como comércio, serviços e indústria são os que mais empregam sob a escala 6x1. Vigilantes, balconistas, operadores de máquinas e comerciários compartilham relatos semelhantes, destacando o impacto da jornada exaustiva em suas vidas pessoais.

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“Estou há oito meses como frentista. Quando consegui a vaga, não sabia que ia ficar tão exausto. Tenho só um dia para descansar na semana, mas nem descanso direito porque preciso resolver outras coisas”, conta outro trabalhador, também sob anonimato, pois também temeu represálias do dono do posto de combustíveis onde ele trabalha. 

Ele relata o impacto emocional da rotina.

“Não tenho filhos ainda, mas penso se teria tempo para dedicar a eles. Já mal consigo ficar com minha noiva. Quando chego em casa, vou direto para o quarto, nem vejo minha avó direito”, continua.

Impacto e resistência

Fábio Bezerra, do Sindicato de Docentes do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Sindcefet-MG), destacou em entrevista ao Brasil de Fato MG, a importância de se mobilizar contra retrocessos nos direitos trabalhistas. 

“Essas jornadas exaustivas não são apenas uma questão de saúde, mas de dignidade. É necessário organizar a categoria e lutar por condições melhores”, afirma.

A escala 6x1 é regulamentada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que obriga um dia de descanso para cada seis trabalhados. Contudo, muitos trabalhadores argumentam que o modelo é incompatível com uma vida equilibrada. Entre as propostas para substituir a escala está o revezamento de finais de semana e a adoção de jornadas 5x2, hoje mais comuns em escritórios.

O influenciador e vereador eleito pelo Psol no Rio de Janeiro, Rick Azevedo, é uma das vozes mais ativas contra a escala 6x1. Ele afirmou, em entrevista ao Brasil de Fato, que apenas juntos os trabalhadores vão conseguir garantir respeito e dignidade para quem sustenta o país com seu trabalho.

“Essas jornadas exaustivas prejudicam a saúde física e mental dos trabalhadores, que mal têm tempo para si ou para suas famílias. Estamos organizando atos em vários estados para conscientizar a população sobre a urgência dessa causa”, afirma o jovem, que também é criador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT).

Um Natal de reflexão

Para muitos, o Natal deste ano será mais um dia comum, marcado pelo cansaço e pela distância. A vendedora entrevistada resume o sentimento.

“Trabalhamos para sustentar o país nas costas, mas não temos tempo para nossas próprias famílias. Essa escala precisa mudar. Quem a defende é porque não trabalha dessa forma.”

Perspectiva de mudança

Tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL), para proibir a escala 6x1. Em Minas Gerais, uma audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na sexta-feira (13) debateu sobre a redução da jornada. 

Durante o encontro, o economista e pesquisador no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Diogo Santos afirmou que “o nome dessa PEC não é PEC contra escala 6x1, é a PEC da família. A gente não quer trabalhar menos, a gente quer trabalhar melhor”. 

Na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), também neste mês, a vereadora Iza Lourença (PSOL) protocolou um projeto de lei (PL) para acabar com a escala 6x1 para trabalhadores que prestam serviços à prefeitura. A proposta agora será apreciada pelas comissões da CMBH. 

Edição: Ana Carolina Vasconcelos