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2024: o ano que nos desafiou

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Reprodução - Maí Yandara / Mídia NINJA
Precisamos de ousadia e coragem para tornar o Brasil um país cidadão

2024 foi um ano que nos desafiou durante os seus 366 dias. Mexeu com as nossas estruturas, desafiou nossas esperanças, ameaçou a democracia, nos fez rir e chorar. A natureza nos deu respostas contundentes sobre os efeitos das ações humanas, ardendo sob nossas vistas e deixando um rastro de destruição e fúria. Chorou águas fortes e bravias, ceifando vidas e lambendo estruturas físicas.  

A democracia foi ameaçada e o fascismo mostrou a sua face mais odiosa, indicando não haver limites quando se tem propósitos de usurpar o poder.  Tratativas golpistas vieram à tona, expondo de forma visceral as nossas fragilidades e incapacidades de nos antever ou de sermos vigilantes, já que o ódio e a ganância pelo poder não mede esforços para nos ameaçar.  

As fragilidades do nosso governo federal nos colocaram em uma posição de “xeque-mate”, dando luz ao debate sobre o que de fato queremos para o nosso país, se é nos manter em uma posição cômoda de “finjo que não te vejo e você finge que não nos ameaça” ou se de fato faremos as transformações incômodas à elite conservadora e golpista. 

Acabamos, em vários  momentos, vivendo o silêncio cômodo de quem não quer fazer incomodar.  O resultado dessa posição veio e continuará vindo, se não buscarmos de forma  corajosa as mudanças necessárias para colocar o Brasil na  vanguarda de um país que enfrenta os problemas sociais, econômicos e estruturais visando garantir a consolidação de uma política de bem viver. 

O  acuamento do governo federal em determinadas pautas estruturais que nos são caras nos coloca em uma posição de fragilidade política e ameaça o futuro, inclusive as eleições de 2026.  

Já se passaram dois anos do terceiro governo Lula e ainda nos encontramos intimidados e acuados

Nunca tivemos dúvidas sobre as escolhas que tivemos que fazer para defender a democracia ameaçada pela extrema direita que governou o país nos últimos anos, mas o período eleitoral passou e nos falta hoje a ousadia de romper com determinadas posições políticas e alianças nocivas aos avanços sociais,  políticos e econômicos. 

Precisamos colocar o Brasil na rota da construção de uma política estruturante de bem viver para todas e todos os segmentos sociais. A ousadia e a transformação marcaram os dois primeiros governos Lula e devem ser norteadoras da atual gestão, para que não se sinta acuada diante das ameaças da extrema direita alojada nas estruturas de poder do país. 

Já se passaram dois anos do terceiro governo Lula e ainda nos encontramos intimidados e acuados. Nos falta a coragem e a ousadia de fazer o que realmente é necessário para colocarmos o Brasil num patamar de país cidadão, que não se rende a chantagens e ameaças políticas de uma direita fascista, antidemocrática e reacionária. 

O fascismo deu claras demonstrações de como as nossas estruturas democráticas e de direitos são frágeis. Esse setor se aproveita das nossas fraquezas políticas para se organizar e ameaçar a democracia. É preciso demonstrar força, vontade política e ousadia para punir os que ameaçam a vida, os direitos e as conquistas sociais. 

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É preciso ter ousadia para aprofundar as mudanças e enfrentar o ódio e a raiva que nunca nos impediram de sonhar e lutar. Sempre  enfrentamos o status quo dos que odeiam a democracia, desprezam nossas vidas e ameaçam os avanços sociais. 

Lutamos  bravamente contra a ditadura militar e a favor das diretas. Muitos de nós foram  torturados, presos e tiveram as suas vidas ceifadas por defender os nossos direitos. O medo nunca fez parte do nosso dicionário, o cuidado sim. 

Justo agora, quando temos em nossas mãos as possibilidades de mudança, nos transformamos em reféns, perdemos a nossa ousadia em querer mudar, nos tornando algozes de nossos próprios sonhos e esperanças. Nos acovardamos diante das possibilidades de construção de um país de todas e todos. 

2025 chegou nos desafiando a sair do lugar de comodidade e acovardamento, diante da conjuntura. Precisamos comemorar a melhora da economia, o crescimento do PIB, o  crescimento do índice de trabalho e a diminuição do desemprego formal, mas também precisamos reconhecer que isso não deve nos bastar. 

Há muito o que se fazer para podermos falar com segurança que estamos avançando e que não mais precisaremos nos sentir ameaçados pelo tsunami do fascismo, do ódio e do  retrocesso.  

A economia, para se manter em um patamar de avanços, precisa nos incluir — pobres, mulheres, pretos e demais setores vulneráveis socialmente —, de forma a não ser só uma “marolinha”. 

Precisamos demonstrar força, vontade política e ousadia para punir os que ameaçam a vida, os direitos e as conquistas sociais

A reforma agrária precisa ser aprofundada garantindo a terra para quem nela vive com custo viável, para que o acesso à alimentação saudável não seja um inacessível. A educação de qualidade tem que ser uma realidade, os direitos trabalhistas uma garantia e a vida com dignidade e qualidade uma construção social real.  

Não podemos apenas comemorar os avanços, que são inegáveis. A garantia, a permanência e o necessário aprofundamento de tudo isso dependem de um Congresso e um Senado mais comprometidos, o que não está dado na prática.  

Portanto,  precisamos de um governo menos acuado, mais incisivo e contundente em suas posições, que se mantenha alinhado com os movimentos populares e que defenda as pautas históricas defendidas por esses setores, que são o fiel da balança na defesa de pautas democráticas e progressistas.  

Que 2025 seja um ano abençoado por Iansã, a Senhora dos Ventos que nos revigoram e levam para longe o marasmo e a comodidade, e por Xangô, que nos  traz o senso de justiça e da verdade. Juntos, nos trarão em seus raios e trovões grandes possibilidades de transformações e renovações.  

Makota Celinha Gonçalves é jornalista, empreendedora social da Rede Ashoka e coordenadora geral do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB). 

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Leia outros artigos de Makota Celinha em sua coluna no Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Ana Carolina Vasconcelos