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Paranoia e culpa dos golpistas

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Reprodução - Tércio Teixeira/AFP
O medo produz o ódio e vontade de resposta violenta

O filósofo alemão Karl Ludwvig von Heler (1768/1854) afirma que a lei era um mero acessório e que o direito natural é que deve prevalecer, a lei do mais forte, a ordem imposta pelo vencedor. Friedrich Hegel (1770/1831) contrapõe a esta posição porque ela alimenta o despotismo e os privilégios dos poderosos, para ele era importante reforçar a lei e o equilíbrio entre os três poderes.

Mas o que a classe dos mais ricos do Brasil e do mundo quer é que prevaleça o ideal de Heler, a lei do mais forte. Bolsonaro é um instrumento desses interesses. O serviço dele começa com o fim do regime militar (1964/1985), no qual ele se sente desamparado e tomado de medo. Isso o leva a cultivar o ódio como combustível pra seus intentos.

Segundo o jornalista Álvaro Costa e Silva, Bolsonaro, na condição de militar, tentou ingressar no curso kids pretos, da Escola Superior de Guerra (ESG), responsável pela formação de militares para atuação em missões de alto risco. Não tendo conseguido e ressentido com a exclusão, planejou um ataque a bomba ao sistema de água do Rio de Janeiro. Acabou sendo preso e respondendo a processo na alçada militar.

Já como deputado federal, no estilo de ditadores, pronunciou discurso dizendo que “o voto não vai mudar nada no Brasil. Só vai mudar quando partirmos para a guerra civil, matando uns 30 mil, começando por Fernando Henrique Cardoso”.

É com esse tipo de pronunciamento que Bolsonaro fanatiza e inflama seus seguidores. A linguagem tosca, cafona como Janio Quadros, facilita o ato de influenciar e destilar ódio, a exemplo da campanha contra o ministro Alexandre de Moraes, em comícios extemporâneos na avenida Paulista.

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Marcante foi a briga que teve com a deputada carioca Maria do Rosário, na Câmara dos Deputados, em 2003. Entre empurrões e palavrões ele disse três vezes: “Não lhe estupro porque você não merece”. Mesmo com todas as evidências de que as urnas eletrônicas são confiáveis e a prova de fraudes, empreendeu campanha contra as mesmas, pensando em anular as eleições de 2022, caso a perdesse.

Conforme o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), João Cesar de Castro Rocha, em seu livro “Bolsonaro: da guerra cultural ao terrorismo doméstico”, analisa como a estratégia foi a de primeiro criar o medo nos seguidores, com auxílio de parte do cristianismo.

O medo produz o ódio e vontade de resposta violenta. Usa a mentira como retórica, sem nenhum escrúpulo de ofender e destruir inimigos imaginários. Como o cristianismo historicamente é contra a prática do ódio, criaram uma “teologia” de valorização de figuras históricas do judaísmo que, no passado, usaram a violência para eliminar adversários, como os reis Davi e Salomão.

Castro Rocha conceitua essa incoerência como “dissonância cognitiva” que acontece quando existe uma contradição entre idéias nas quais se tem muito apego ou fanatismo, mas a realidade é outra. Isso gera no individuo transtorno emocional que o leva a agir de forma violenta, mesmo que na forma de crimes, como assassinatos, atos terroristas e sabotagens para eliminar um suposto “comunismo” e a “tirania do Supremo Tribunal Federal (STF)”, instaurar uma ditadura para “salvar a democracia”, como disse o professor Wilson Gomes da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Karl G Jung (1875/1961) chamou isso de paranoia coletiva, isto é, quadro psiquiátrico que se caracteriza por um estado de desconfiança e ansiedade constante, levando a crenças falsas de ameaças e perseguições. A maior culpa de Bolsonaro, além da objetiva, constante dos autos do processo, é a subjetiva por ter provocado a paranoia coletiva em seus seguidores.

Os crimes dos paranoicos não são inimputáveis porque estes planejam, sabem o que estão fazendo e sabem ocultar seus crimes.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e UNI-BH. Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul (PUC-RS).

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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida