Minas Gerais

VALE DO JEQUITINHONH

Especialistas apontam que edital de Zema estimula narrativas elogiosas sobre mineração

Iniciativa premiará jornalistas e produtores de conteúdo que contarem histórias positivas sobre o projeto Vale do Lítio

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG debateu os impactos socioambientais decorrentes da pesquisa e da exploração de lítio nos municípios localizados no Médio Jequitinhonha - Foto: Luiz Santana/ALMG

Governo Zema quer com esse edital amordaçar a imprensa

O governo de Romeu Zema (Novo) lançou um edital para jornalistas e produtores de conteúdo chamado de Riqueza dos Vales, que vai premiar profissionais que contarem histórias sobre os efeitos transformadores de programas implantados na região do Vale do Jequitinhonha, chamado pela gestão de “Vale do Lítio”. 

No entanto, a iniciativa tem recebido críticas de especialistas e movimentos populares por querer apresentar apenas uma visão positiva de projetos do próprio governo, que, na verdade, também geram bastante desafios para as comunidades da região. 

A jornalista e professora da UFMG, Ângela Carrato, é uma das críticas à proposta. 

“Na verdade, o que o governo Zema quer com esse edital é amordaçar a imprensa, principalmente a imprensa mineira, que é onde que ele disputa sua base eleitoral. Então ele não quer só elogios para o trabalho”, pontua.

:: Leia também: O avanço da exploração do lítio no Vale do Jequitinhonha: desenvolvimento para quem? ::

Os desafios da região

Em 2023, o governo estadual lançou o projeto “Vale do Lítio”, que tem o objetivo de atrair investimentos para a região do Jequitinhonha, composta por 14 cidades: Araçuaí, Capelinha, Coronel Murta, Itaobim, Itinga, Malacacheta, Medina, Minas Novas, Pedra Azul, Virgem da Lapa, Teófilo Otoni, Turmalina, Rubelita e Salinas.

A ideia, segundo a gestão,  é estimular o desenvolvimento econômico e social, gerando emprego e renda para a população. No entanto, na mesma localidade, diversas são as denúncias, vindas dos próprios moradores, a partir da exploração mineral, como destruição de biomas, desrespeito aos territórios de comunidades tradicionais e povos originários, além de impactos graves à saúde da população.

É o que reforça Luiz Paulo Siqueira, biólogo e coordenador nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

“O projeto Vale do Lítio não passa de uma grande propaganda para atrair investimento do estrangeiro e entregar o conjunto de bens minerais que nós temos em território mineiro ao capital internacional no total desrespeito às comunidades e ao norte de Minas”, alerta. 

Para ele, o projeto aprofunda uma lógica de subdesenvolvimento no estado, ampliando uma economia primária exportadora baseada na exportação de commodities. “Não há nenhuma perspectiva de beneficiamento, de industrialização desse mineral no território, somente destinado à exportação. Ou seja, esse projeto não tem nenhum benefício ao conjunto das comunidades, não há nenhuma política estrutural”, lembra. 

Falta ética

A premiação Riquezas do Vale está dividida em nove categorias, vídeo, áudio, conteúdo escrito, fotografia, material para redes sociais e redação, que vão destinar, ao todo, R$ 450 mil aos vencedores. 

Na opinião de Ângela Carrato, o projeto usa o prestígio de uma premiação e a possibilidade de arrecadação em dinheiro, para estimular produções menos críticas em relação à situação do Vale do Jequitinhonha. 

“A coisa funciona não pautando matérias críticas e, ao contrário, divulgando as matérias positivas, porque todo veículo gosta de dizer que ganhou prêmios. E claro que todo jornalista quer também ter seu trabalho reconhecido, especialmente se esse reconhecimento foi seguido de alguma recompensa financeira. O problema é que isso envolve uma questão que chama-se ética”, chama a atenção. 

Outro lado

O Brasil de Fato MG entrou em contato com o governo e aguarda respostas. A reportagem será atualizada se houver posicionamento. 
 

Edição: Elis Almeida