Minas Gerais

DIREITOS HUMANOS

Psicólogos mineiros repudiam deportações de Trump e reforçam acolhimento de repatriados

Ação é coordenada pelo CRP-MG; governo Lula anunciou criação de centro de acolhimento no aeroporto de Confins (MG)

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Voo da FAB com brasileiros deportados dos EUA chegou a Minas Gerais no sábado (25) - Imagem: Divulgação/Gov AM

Em resposta à política de deportações em massa de Donald Trump com cidadãos da América Latina, psicólogas e psicólogos mineiros repudiaram a violação sistemática de direitos humanos sofrida por brasileiros repatriados dos Estados Unidos. O posicionamento foi publicado pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), na terça-feira (28). 

O órgão também se comprometeu a reforçar a orientação de profissionais da psicologia para atender às pessoas deportadas, e também promoverá articulação da defesa dos direitos humanos dessas vítimas em nível municipal e estadual. 

“Nos solidarizamos com todas as pessoas sobreviventes, pais, mães, filhas, filhos que tiveram seus direitos violados, sua liberdade cerceada e seus sonhos ceifados por uma ação antidemocrática e ilegal. Desejamos que todas as pessoas que passaram por essa experiência possam se recuperar e superar esse episódio para seguirem com suas vidas”, reiterou a instituição, em nota.

Processo violento

Na última sexta-feira (24), um voo com destino à capital mineira pousou em Manaus com cerca de 88 brasileiros a bordo. Segundo a Polícia Federal (PF), os passageiros deportados estavam sendo transportados algemados. 

De acordo com a Agência Brasil, em razão da soberania nacional, o governo brasileiro, comandado por Lula (PT), determinou a retirada das algemas e enviou uma aeronave da FAB para transportar os brasileiros até o destino final.

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Apesar da política de deportação ter sido endurecida pelo governo Trump, desde 2019, 11.679 brasileiras(os) chegaram ao aeroporto de Confins, em Minas Gerais, deportadas(os) dos Estados Unidos. 

“O nosso posicionamento é que os países podem ter suas políticas migratórias mas nunca violar os direitos humanos de ninguém”, afirmou a ministra dos direitos humanos Macaé Evaristo, ao recepcionar os brasileiros em Confins. 

“A gente não pode suportar a violação dos direitos humanos e o que aconteceu nesse voo foi a violação dos direitos dos brasileiros”, acrescentou ela, em vídeo divulgado nas redes sociais. 

A ministra anunciou, também, que o governo federal criará um posto de acolhimento humanitário em Confins (MG), considerando que poderão haver outras deportações.

Escuta sensível

Fornecer uma escuta sem julgamento é um dos primeiros passos para atender as pessoas deportadas, segundo o conselheiro do CRP-MG Henrique Galhano, que integra  a Comissão de Orientação em Psicologia e Migração na instituição. 

“A partir da história que a pessoa conta, é possível compreender os reais motivos que a levaram a fazer a migração para outro país de forma tão precária. Temos que estar preparados para dar conta de tamanho sofrimento que é trazido”, lembra o psicólogo, em recado direcionado à categoria. 

Segundo ele, a primeira questão perceptível nesse processo é compreender um projeto de vida que foi interrompido, ao mesmo tempo em que vínculos foram fragilizados ou rompidos devido ao processo de migração. 

O conselheiro lembra que os brasileiros deportados retornam ao Brasil em um processo violento que impacta, sobretudo, seus bens materiais, o que gera um grande efeito subjetivo de desesperança. 

“É a economia de toda uma vida e recuperar isso vai demorar um tempo e muitas vezes as pessoas podem acabar desistindo de correr atrás dessa reconstrução”, destaca Henrique, ao lembrar que, desses brasileiros repatriados, grande parte voltou com seus bens em sacolas de plástico. 


 

Edição: Ana Carolina Vasconcelos