Minas Gerais

CRISE CLIMÁTICA

Minas Gerais é o terceiro estado que mais esquentou no país nos últimos 10 anos; entenda os motivos

Projeções apontam aumento da temperatura média de BH em até 3°C, caso não haja um replanejamento urbano

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG | |
Belo Horizonte é a capital que mais esquentou no Brasil desde 2023 - Guilherme Bergamini/ALMG

As mudanças climáticas têm sido cada vez mais evidentes aos olhos da população. Grandes períodos de secas, calor extremo e chuvas volumosas são consequências da crise climática, que se intensifica ano após ano. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Minas Gerais está entre os cinco estados que mais esquentaram no país nas últimas duas décadas, com um aumento de 1,1°C. E não acaba por aí. 

Quando observados os últimos 10 anos, o estado está entre os três que mais esquentaram no Brasil, ficando atrás apenas do Mato Grosso e do Amazonas. Fazendo o recorte a partir de 2023, Belo Horizonte é a capital que mais esquentou, chegando a 4,23°C acima da média. 

O ano mais quente

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 2024 foi o ano mais quente já registrado no planeta e, em Minas Gerais, o calor não foi diferente. 

Ainda segundo dados do Inmet, a média dos 10 dias mais quentes do ano passado foi 0,7°C maior que a média dos 10 dias com maiores temperaturas em 2014. Quando comparado com os 10 dias mais quentes de 1994, a média foi 1,2°C mais alta. 

Observando a média anual de temperatura, a de 2024 foi 0,8°C mais alta que a do período entre 1991 e 2020. Além disso, no ano passado, Belo Horizonte registrou a maior temperatura da história do inverno, com 34,4°C. 

Junto ao calor extremo, as chuvas intensas também têm causado grandes danos ao estado, o que evidencia, portanto, a crise climática e as anormalidades do clima. 

::Leia também: Chuvas em MG revelam falta de planejamento e de comprometimento do governo Zema::

Anomalias de temperatura

Para analisar o aumento das temperaturas em determinados locais, usa-se as anomalias de temperatura, como forma de observar as mudanças. O método exibe as diferenças entre a temperatura média de um determinado local num período de tempo.

Observando a anomalia de Minas Gerais, tendo como comparação o período entre os anos de 1981 e 2010, o estado chegou a 2°C acima da média. Além disso, de acordo com uma pesquisa feita por cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), das 20 cidades que mais esquentaram no Brasil, cerca de 18 são de Minas Gerais, sendo a maioria do Vale do Jequitinhonha.

::Leia também: O avanço da exploração do lítio no Vale do Jequitinhonha: desenvolvimento para quem?:: 


Anomalia Setembro de 1994 / Reprodução/INMET


Anomalia Setembro 2024 / Reprodução/INMET

Causas

Segundo estudos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o aumento de temperaturas e desastres climáticos no estado estão ligados à expansão urbana desordenada e à redução de áreas permeáveis. De acordo com dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), cerca de 7.326 árvores foram derrubadas em 2023, por exemplo. 

::Leia também: Após derrubar 7.326 árvores em um ano, Belo Horizonte foi a capital que mais esquentou em 2024::

Em entrevista ao Brasil de Fato MG, a ambientalista do projeto Manuelzão da UFMG Jeanine Oliveira fala sobre a importância da preservação das áreas verdes nas cidades e de métodos que diminuam os impactos climáticos, o que tem sido, segundo ela, inexistentes em Minas Gerais, sob o governo de Romeu Zema (Novo).

“Perceba, uma coisa é o local, outra coisa é o global. Globalmente, todos nós passamos por mudanças climáticas. Localmente, você pode implementar medidas, mesmo com a crise climática, que vão fazer com que sua cidade, seu agrupamento seja menos atingido. Então, não é porque estamos em mudanças climáticas que não vai dar para ninguém atravessar esse momento”, explica. 

Outra questão a ser observada é o desmatamento da Mata Atlântica e do Cerrado. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Minas Gerais foi o estado que mais destruiu a Mata Atlântica no Brasil. O levantamento também aponta que cinco das 10 cidades que mais destruíram o bioma são mineiras. 

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

“Os dados de Minas Gerais são alarmantes. Não é só o estado que mais esquenta, é também, o estado que tem mais incêndio. É também o estado que mais mata e retira a Mata Atlântica, por exemplo”, afirma a ambientalista. 

Outro problema, segundo Jeanine, é o apoio de Zema às mineradoras e ao agronegócio, o que tem motivado o desmatamento em diversas áreas do estado, contribuindo para o aumento da temperatura e de desastres, como deslizamentos e inundações.

Projeções

Segundo o Painel Nacional de Mudanças Climáticas (IPCC), até 2050, a temperatura média em Belo Horizonte pode subir 3°C, se não houver mitigação das emissões e um replanejamento urbano, com foco em áreas verdes e permeáveis. No entanto, Jeanine alerta que essa projeção pode se antecipar, caso não haja mudanças. 

“Eu acredito que muito antes de 2050, no caminho que a gente está, certamente, chegaremos a esses 3°C. Se você olhar, por exemplo, a temperatura no Golfo do México, você vai entender perfeitamente o que estou dizendo. Todas as projeções que eles vinham fazendo foram batidas”, diz a ambientalista. 

Relatórios do Inmet indicam ainda que as ondas de calor em MG tornaram-se 15% mais frequentes nas últimas duas décadas, indicando que a projeção de aumento de 3°C até 2050 pode ser antecipada.

Edição: Ana Carolina Vasconcelos