Somos incapazes de concentrar em mais de uma tarefa ao mesmo tempo
Fevereiro marca o início do ano letivo em todo o país. E com ele, uma novidade já agita o cotidiano escolar: a lei federal 15100/25, que proíbe o uso do celular por parte dos estudantes nas escolas. E o que a ciência já sabe sobre esse tema?
A presença dos smartphones em nossas vidas é algo relativamente novo. Há menos de 20 anos não era comum termos um computador com acesso à internet no bolso 24 horas por dia. De lá pra cá, isso nos trouxe novas realidades, como as redes sociais, os serviços de streaming de filmes e séries e as plataformas de jogos e apostas online. E tudo isso interfere fortemente em nossas vidas e em nossa saúde.
Compreender os efeitos dessas novas tecnologias é algo fundamental. Ainda mais para crianças e adolescentes, que passam pelas etapas cruciais de desenvolvimento do cérebro, da personalidade e da aprendizagem.
Vários estudos científicos já foram feitos nos últimos anos para se compreender o efeito dos smartphones na saúde humana. A conclusão geral é que o uso excessivo dos aparelhos está relacionado a problemas como aumento da ansiedade e depressão; dependência e uso compulsivo; diminuição da qualidade do sono; diminuição da capacidade de atenção, memória e aprendizado; redução da interação social presencial e da empatia.
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Com base no conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, sabemos que os seres humanos não são capazes de se concentrar de forma eficaz em mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Por isso, usar um aparelho celular e participar de uma aula ao mesmo tempo com qualidade é algo impossível. Portanto, é óbvio que o uso dos celulares em sala de aula sem fins pedagógicos prejudica o processo de ensino e aprendizagem.
Mas, proibir é o melhor caminho? Já há algum estudo que tenha testado a eficácia desse tipo de política no enfrentamento desse problema? Por ser algo tão novo, poucos estudos foram feitos até o momento para se responder a estas questões.
Por exemplo. Um estudo realizado na Espanha e publicado em 2020 concluiu que a proibição do uso de celulares trouxe melhoras nas notas de matemática e ciências, e diminuiu a incidência de bullying. Já outra pesquisa, realizada no Reino Unido e publicada em 2025, constatou que não houve diferença significativa no bem-estar mental dos estudantes de escolas em que o celular era proibido daquelas em que não era.
Ou seja. Ainda precisaremos de tempo e mais pesquisas para compreender qual a melhor forma de lidar com esse desafiante tema. Cenas dos próximos capítulos!
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais
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Edição: Elis Almeida