REPARAÇÃO HISTÓRICA

Paulo Teixeira anuncia desapropriação de fazenda de onde surgiram as Ligas Camponesas na Paraíba

Área histórica para os movimentos do campo será transformada em assentamento Elizabeth Teixeira

Brasil de Fato | Sapé - PB |
Ministro Paulo Teixeira participa de coletiva de imprensa ao lado de Elizabeth Teixeira, em Sapé, na Paraíba - Afonso Bezerra

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, anunciou neste sábado (15), durante evento no Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas, em Sapé, na Paraíba, a desapropriação da Fazenda Antas. O local é um marco na história da luta camponesa no Brasil, onde surgiu a Liga Camponesa paraibana e onde um de seus principais líderes, João Pedro Teixeira, foi assassinado em abril de 1962.

"O Incra já está com o dinheiro e finalizando todo o processo de compra da Fazenda Antas", garantiu o ministro. Segundo o presidente do Incra, César Aldrighi, a aquisição da fazenda faz parte de um pacote de 20 propriedades adquiridas pelo governo federal no final de 2024, com um investimento de R$ 350 milhões. "O dinheiro foi empenhado em dezembro e o processo está em tramitação no cartório para que possamos criar o assentamento", explicou.

A desapropriação atende a uma das principais reivindicações das famílias camponesas da região e de movimentos populares. Cerca de 30 famílias serão assentadas no local, que será nomeado Assentamento Elizabeth Teixeira, em homenagem à histórica lutadora pela reforma agrária e viúva de João Pedro Teixeira. A medida do Incra também deve contemplar as estruturas do Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas.

 

Uma vida de luta

A visita do ministro ocorreu em meio às celebrações pelo centenário de Elizabeth Teixeira, que completou 100 anos no último dia 13 de fevereiro. Durante o final de semana, a região de Barra de Antas recebeu eventos como lançamento de livros, marchas políticas e atos em defesa da memória camponesa.

"Fazer isso ainda com a senhora em vida, fazer isso com o movimento das Ligas Camponesas, é dizer que o campesinato existe e resiste", afirmou Alana Lima, presidenta do Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas, ao lado do ministro e de Elizabeth.

"É afirmar que ainda precisamos continuar lutando, quando deveríamos estar celebrando que a reforma agrária já deveria ter acontecido no nosso país."

Além da desapropriação, o ministro também anunciou medidas de incentivo à agricultura familiar na região, incluindo a aquisição de alimentos como feijão, farinha e sementes de arroz vermelho, e a implantação de sistemas de irrigação com energia renovável.

Preço dos alimentos

Durante coletiva de imprensa em Sapé, o ministro Paulo Teixeira afirmou que "não há inflação de alimentos in natura" e que a alta de preços está "circunscrita a cinco produtos". Segundo o ministro, os aumentos se concentram na carne, café, açúcar, laranja e derivados sólidos, impactados pela alta do dólar durante a eleição presidencial nos Estados Unidos.

"Agora, com as providências do governo, o dólar voltou a baixar, e isso vai repercutir nos próximos meses. Mas não houve inflação nos alimentos básicos. Estamos discutindo outras medidas para organizar melhor a distribuição de alimentos", disse, sem detalhar quais seriam essas ações.

O preço dos alimentos tem sido um dos pontos críticos da gestão Lula, que enfrenta dificuldades e reprovação crescente da população. Segundo o último levantamento do Datafolha, 41% dos entrevistados reprovam o governo, enquanto 24% aprovam.

O ministro não comentou os dados, mas ressaltou a meta de assentar pelo menos 60 mil famílias até o fim do mandato. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) segue cobrando maior agilidade na implementação da reforma agrária.

Edição: José Eduardo Bernardes